
A intervenção militar no Iraque nunca foi bem justificada, é certo, porém o argumento impingido pelos americanos que o regime de Saddam Hussein teria armas de destruição maciça foi o suficiente para convencer muitos. O argumento era oneroso, e após os acontecimentos trágicos do 11 de Setembro, tornou-se relativamente fácil demonizar um país governado por um déspota agitador e intransigente. Apesar da posição unilateral adoptada pelos EUA, sem o aval das Nações Unidas, a guerra foi apresentada ao mundo como sendo uma inevitabilidade. Foi vendida ao mundo uma mentira com consequências dramáticas para o país e para a região. Ora, nestas circunstâncias reconhece-se que as falsidades veiculadas pela administração Bush tiveram uma consequência evidente: o erro, ainda que baseado em mentiras, de todos os que não se insurgiram contra esta guerra, acabando por aceitá-la como sendo uma inevitabilidade. A autora deste texto aceitou, não se insurgiu, errou.
A História é rica em episódios que demonstram que a ignorância aliada à arrogância tem resultados desastrosos. O Iraque é o paradigma por excelência dessa aliança que produz invariavelmente resultados funestos. O desprezo pelas especificidades do Iraque, designadamente a animosidade entre xiitas e sunitas; a posição unilateral de super potência que se arroga o direito de intervir onde bem entende, utilizando a mentira como forma de legitimar a guerra e o sempre discutível conceito de guerra preventiva estão a ter consequências trágicas para o povo Iraquiano. Deste modo, cada morte que ocorre neste país fruto da crescente instabilidade é mais uma confirmação do erro incomensurável que a intervenção militar americana representa.
Com efeito, as consequências da guerra para o país são execráveis, e com a agravante de não se vislumbrar uma solução exequível para a estabilização do país que foi outrora a Mesopotâmia. A consequência talvez mais gravosa está relacionada com o crescimento exponencial do terrorismo. O Iraque é, de facto, um reduto de terroristas que procuram a todo o custo inviabilizar a existência de um Iraque seguro e livre. De resto, a animosidade que resvala frequentemente para o confronto directo entre sunitas e xiitas não permite o vislumbre de estabilidade para este país do Médio Oriente. A luta pelo o poder continuará a assombrar este país.
A instabilidade impera no Médio Oriente - o conflito israelo-palestiniano continua a não dar tréguas, o Irão surge agora com ambições hegemónicas, procurando para tal o desenvolvimento de tecnologia nuclear, e o Iraque transformou-se num baluarte de terroristas vivendo assumidamente ou não uma guerra civil. Talvez seja a hora da administração Bush abandonar definitivamente a arrogância e a ignorância que a caracterizam e enveredar por um caminho de diálogo com os países da região. O processo de pacificação do Iraque passa certamente pelo envolvimento dos países vizinhos.
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