
A Venezuela, país conhecido de muitos portugueses, atravessa uma crise grave cuja origem está numa suposta revolução bolivariana desencadeada pelo inefável Hugo Chávez. O papel de Cuba nesta metamorfose da Venezuela é absolutamente determinante, aliás, o triângulo do anacronismo, composto pela Venezuela, por Cuba e pela Bolívia são os paradigmas da tal revolução. A dita revolução traduz-se numa retórica pobre disfarçada por um antiamericanismo primário e alicerçada no cerceamento das liberdades. É esta questão das liberdades que está agora na ordem do dia, tanto mais é assim que os meios de comunicação social em todo o mundo noticiam o encerramento compulsivo de órgãos de comunicação social que constituem um óbice nesta senda de Hugo Chávez de consolidar a revolução.
Esta forma de actuar, eliminando as vozes incómodas, é sobejamente conhecida e tem sido levada à prática por qualquer ditador de “trazer por casa”; porém, não deixa de ser desconcertante verificar que a transformação da Venezuela no despotismo mais primário já atingiu a fase do silenciamento das vozes mais incómodas. Por outro lado, é inquietante observar um renascimento da imagem de Simão Bolívar, político e militar que libertou a América do Sul (ou parte dela) do jugo colonial espanhol, adaptada agora às novas realidades, tentando dessa forma passar mensagem de libertação envolta num manto de nacionalismo bacoco. Substitui-se os espanhóis pelos americanos – note-se que estes regimes necessitam de um inimigo declarado para sobreviverem. A retórica adoptada por Chávez e caracterizada por todo o tipo de excessos e de insultos é manifestamente anti-americana. Pugna-se por uma suposta libertação da Venezuela, Cuba e Bolívia do jugo económico e financeiro dos Estados Unidos da América.
Hugo Chávez, na prossecução dos seus objectivos – leia-se implementação de um regime déspota –, está paulatinamente a destruir tudo o que caracteriza uma democracia pluralista, começando, naturalmente, pela coarctação das liberdades individuais. Um regime que se alimenta do isolamento, da ignorância, e da privação das liberdades necessita de eliminar a “mais perigosa” das liberdades – a liberdade de expressão. E fá-lo através do encerramento dos veículos primordiais dessa liberdade: rádios, jornais, canais de televisão, e em lugar destes coloca em funcionamento exclusivo meios de comunicação social do regime. Porém, nenhum regime consegue perpetuar a inexistência de liberdades, até porque os seres humanos cansam-se de ouvir uma só voz, sempre a mesma voz. São muitos os que se recusam a viver sob o jugo do silêncio, e são esses que vão lutar contra este retrocesso civilizacional que constitui a Venezuela de Hugo Chávez.
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