
É sobejamente conhecida a forma como muitos portugueses conduzem, não é por acaso que Portugal tem um elevadíssimo índice de sinistralidade. Os portugueses e a sua indissociável forma ignominiosa de conduzir constituem uma vergonha nacional. E a circulação em rotundas é o paradigma de uma mescla de chico-esperteza e de um elevado grau de inépcia que caracteriza a condução de vários dos nossos concidadãos. Dir-se-á que em muitos outros países o cenário não será muito diferente, talvez, mas em Portugal o simples conceito de rotunda, por exemplo, não é, com efeito, assimilável. Será assim tão difícil fazer uma simples rotunda?
A comparação poderá ser disparatada mas se compararmos a singela circulação em rotundas com o funcionamento do próprio país, podemos vir a ter uma surpresa: tanto num contexto como o outro todos fazem as coisas à sua maneira, sem conhecimento do que estão a fazer, sem se calhar nunca terem pensado sobre o que estão a fazer. Tanto nas rotundas como no funcionamento do país percebe-se que ninguém sabe bem o que está a fazer, e como não sabem inventam; e os que sabem são os párias da sociedade, porque neste país aprova-se todo o tipo de expedientes e, assim, quando não se sabe inventa-se! No país onde reina a inanidade, vinga também o paradigma da desresponsabilização, e mais uma vez, tanto nas rotundas como no país, nunca ninguém é responsável pelos seus actos e muito menos reconhece o seu erro. Não é por acaso que temos o país que temos: quando vigora o chico-espertismo conjugado com a inépcia não se pode esperar muito de Portugal.
De facto, quem conduz acha a tarefa exasperante, mas quando nos aproximamos de uma rotunda essa exasperação pode tomar proporções preocupantes. Não é possível fazer a apologia da condução defensiva enquanto imperar tanta ignorância nas nossas estradas. Só essa ignorância pode eventualmente justificar tantas asneiras em rotundas e não só. É claro que o individualismo exacerbado e aquela teoria que não passa disso mesmo, que postula uma espécie de superioridade em relação aos outros, utilizando como instrumento primordial a chico-esperteza, a inépcia e a ausência de bom-senso completam o quadro.
Não haverá, pois, indícios que nos permitam afirmar que o cenário não é assim tão negativo, e que poderá melhorar. Porquanto a mudança de mentalidade é um processo moroso, e além disso em Portugal não se faz um esforço significativo para encetar essas mudanças. Continuamos a ser um povo pequeno, ignorante, um povo que se sente atraído pela maledicência e pela trivialidade, um povo irresponsável que é incapaz de reconhecer os seus erros e que só sabe imputar as responsabilidades nos outros: seja no Governo, seja no vizinho, seja no colega, seja no outro condutor. Ao invés de se utilizar a improvisação como forma de colmatar a sua ignorância, seria de uma enorme proficuidade que se procurasse informação. Também o Código da Estrada sofre alterações, não é imutável, e por conseguinte, todos os condutores devem manter-se informados. A improvisação é o primeiro passo para o erro, e num país de artistas, muitos deveriam voltar a aprender ou voltar para o circo.
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