E finalmente, depois de um exemplo de má gestão autárquica, Lisboa vai a votos. A má gestão autárquica não se resumiu apenas à questão financeira, do ponto de vista político a gestão do anterior executivo foi absolutamente anódina. Dir-se-á que a oposição teve um papel preponderante na dificultação da gestão da câmara. Certamente que sim, contudo, isso não invalida o facto de que os problemas de Lisboa terem sido criados por todos os intervenientes políticos na câmara – de todo o espectro político. E não vale a pena alguns políticos insistirem no papel de vítima, nem tão pouco valerá a pena apostarem na imagem do autarca herói; são imagens carregadas de uma absoluta artificialidade.
Por outro lado, chegou o momento dos candidatos começarem a fazer campanha eleitoral, mais ou menos artificial. É também agora que se faz futurologia tentando acertar na mais que provável candidatura de Carmona Rodrigues. Será importante sublinhar a inocuidade que caracteriza o rol de candidatos à Câmara Municipal de Lisboa:
1 - Do lado do PS, é-nos impingido o número dois do Governo, como se isso fosse enaltecedor. O Governo atolado na sua insuportável arrogância, procura disfarçar assim a sua manifesta incapacidade de apresentar soluções para o país. Na verdade, o Governo insiste na banalidade das suas propostas, não é inovador, como gosta de parecer, nem tão-pouco tem resolvido os problemas estruturais do país. Assim não vale! Desta forma, ex. número dois do Governo não será o mais desejado.
2 - Do lado do PSD, depois do líder do partido ter aliciado um vasto número de personalidades, acabou por escolher Fernando Negrão, fica, porquanto, a sensação de que esta foi uma solução de recurso. A falta de peso político do candidato escolhido pelo PSD será outro óbice difícil de ultrapassar.
3 - Do lado do CDS-PP, as possibilidades de escolhas também não pareceram abundar. Toda a celeuma em volta da liderança do partido e da divisão dentro do partido tiveram consequências óbvias: o afastamento, mesmo que voluntário, de algumas personalidades de peso no partido, em particular o afastamento de Nogueira Pinto deixa o CDS numa posição pouco confortável. O CDS parte para estas eleições tolhido na sua capacidade de mobilização.
4 - A CDU aposta na continuidade do seu candidato, apesar do anacronismo que insiste em não abandonar o Partido Comunista, não haverá muito a acrescentar em relação a este candidato.
5 - O Bloco de esquerda aposta igualmente na continuidade, e isso é uma boa notícia? Numa análise mais superficial até será, tendo em conta que o candidato Sá Fernandes tem sido uma voz que se insurge contra a corrupção e contra as ilicitudes. Mas não terá este candidato incorrido no erro de colar excessivamente a sua imagem à incorruptibilidade? E não haverá o risco dos lisboetas ficarem com a sensação que este candidato destrói mais do que constrói? Os excessos, em política, são penalizados.
6 - E finalmente, a(s) candidatura(s) independentes. Helena Roseta poderá representar uma candidatura que se afasta da retórica habitual dos políticos. A aposta da candidata independente numa maior intervenção dos lisboetas nas grandes decisões é já uma diferença significativa em relação às candidaturas concorrentes. A tenacidade de Helena Roseta em se afastar do PS e concorrer, ainda assim, à Câmara de Lisboa poderá ser um trunfo para a candidata independente. Por outro lado, note-se que a candidatura de Carmona Rodrigues ainda não é oficial, e poderá nem vir a sê-lo. Se, de facto, Carmona Rodrigues se candidatar terá a seu favor a forma como foi afastado, ou seja, a imagem de um afastamento compulsivo imposto pelo partido de um homem que apenas queria trabalhar para a cidade de Lisboa. A demonização dos partidos e a vitimização de Carmona pode ser a equação certa para esta possível candidatura independente. Um aspecto negativo que penalizará a hipotética candidatura de Carmona Rodrigues é a actual situação de Lisboa. Por muito que se assevere que esta é uma situação recorrente nas anteriores gestões autárquicas, a actual gestão autárquica terá indubitavelmente responsabilidades, e será punida por isso, na pessoa do anterior Presidente da Câmara de Lisboa.
O PSD Açores, e naturalmente com a aprovação de Rui Rio, achou por bem coligar-se com o "Chega". Outros partidos como o Iniciativa Liberal (IL) e o CDS fizeram as mesmas escolhas, ainda que o primeiro corra atrás do prejuízo, sobretudo agora que a pandemia teve o condão de mostrar a importância do Estado Social que o IL tão avidamente pretende desmantelar, e o segundo se tenha transformado numa absoluta irrelevância. Porém, é Rui Rio, o mesmo que tem cultivado aquela imagem de moderado, que considera que o "Chega" nos Açores é diferente do "Chega" nacional. Rui Rio, o moderado, considera mesmo que algumas medidas do "Chega" como a estafada redução do Rendimento Social de Inserção é um excelente medida. Alheio às características singulares da região, Rui Rio pensa que com a ajuda do "Chega" vai tirar empregos da cartola para combater a subsidiodependência de que tanto fala, justificando deste modo a normalização que está a fazer de um pa...
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