Apenas o facto de Donald Trump ter
chegado politicamente onde chegou é suficientemente inquietante para
merecer uma profunda reflexão. Mesmo supondo que o candidato
republicano não chega a Presidente dos Estados Unidos. O que é que
se passa com a democracia americana para da mesma ter brotado um ser
tão inexoravelmente vazio de ideias como Donald Trump? Com a
agravante de conter em si mesmo tudo aquilo que não deve
caracterizar um líder político: boçalidade, ausência de
princípios democráticos, xenofobia... a lista é infindável.
A existência de criaturas como Trump
não é obviamente inédita, mas contrariamente ao que se tem passado
na história das democracias ocidentais. essas criaturas não chegam
ao lugar politicamente mais relevante. Pululam pela finança e pelos
negócios, com maior ou menor sucesso, mas sem conseguirem chegar a
cargos como o de Presidente de um país como os EUA. Trump, sem
grande apoio dos poderes habituais, aproveita-se disso e apresenta-se
como sendo o candidato anti-establishment, mesmo sendo um
protagonista do capitalismo selvagem que, naturalmente, nunca chega a
criticar, preferindo atacar imigrantes e afins - um discurso que
colhe simpatias, como se tem visto.
Nem os escândalos que deveriam
ameaçar a imagem de Trump parece surtirem o efeito desejado. A
comunicação social americana, apesar de não morrer de amores pelo
candidato republicano, parece preferir dar destaque aos emails de
Hillary.
Mesmo não ganhando - é a minha
convicção - Trump já inaugurou uma nova era na política
americana: a política do vazio, do preconceito e do espectáculo,
com os perigos inerentes - qualquer coisa que Sarah Palin já havia
ensaiado. E contra isto já haverá pouco a fazer.
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