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O jogo do tudo ou nada

A pouco mais de um ano das eleições autárquicas o ainda líder do PSD, Pedro Passos Coelho, decide jogar o tudo por tudo com vista a um bom resultado eleitoral. De resto, Passos Coelho sabe que disso depende o seu futuro político e que um mau resultado autárquico será, aos olhos do partido, imperdoável.
Assim, Passos Coelho, utilizando eventos criados para o efeito, dedica-se à crítica pela crítica dirigida ao Governo e aos partidos que o apoiam. Profeta da desgraça, arauto do fim do mundo em cuecas, Passos Coelho ainda está à espera do Diabo que, aparentemente, chegará durante este mês de Setembro.
Exceptuando alguns resultados económicos que ficaram aquém do desejado, o Governo vai fazendo o seu caminho sem grandes sobressaltos. Compreensivelmente os partidos que suportam esta solução política também têm os olhos postos no próximo período eleitoral, o que justifica uma retórica mais acesa. Na verdade, ninguém quer perder a sua identidade, o que se compreende. No entanto, trata-se meramente de retórica.
Por outro lado, o Presidente da República mostra-se empenhado nesta solução, ficando amiúde do lado do Governo, facto que provoca uma irritação indisfarçável entre as hostes laranjas.
É neste contexto difícil que Passos Coelho procura um bom resultado nas próximas eleições, mas falta-lhe tudo: argumentação, capacidade de se manobrar num posição que visivelmente não lhe é natural - líder do maior partido da oposição -, e, sobretudo, um Presidente que lhe ampare as quedas, à moda de Cavaco Silva.
Passos Coelho tudo faz para sobreviver até porque a alternativa é, aparentemente e contrariamente ao seu colega de governo Paulo Portas, inexistente. É o jogo do tudo ou nada, incluindo discursos a pugnar por mais investimento quando a regra era precisamente a contrária, naquela senda por mais e mais austeridade que caracterizou o Executivo liderado por Passos Coelho.


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