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Afastamento de Dilma Rousseff

As férias de muitos estavam prestes a terminar quando Dilma Rousseff fez a sua defesa junto do Senado, o mesmo Senado repleto de senadores a contas com a justiça. Nesta triste história de ironias, Dilma é precisamente aquela que não se encontra a contas com a justiça, sendo antes acusada de não cumprir, no exercício das suas funções como Presidente da República, as formalidades que a lei brasileira exige. Questões de forma, não de substância, que não beneficiaram, a título pessoal, a ex-Presidente.
Agora o Brasil tem à frente dos seus destinos alguém que está envolvido em escândalos de corrupção, ao ponto de se encontrar impedido de concorrer a cargos de eleição; alguém que nem sequer é reconhecido por boa parte dos chefes de Estado e de Governo de países da América do Sul.
É evidente que a democracia brasileira saiu manifestamente enfraquecida de todo este processo. Como é que alguém é afastado do cargo de Presidente da República pelos razões evocadas e como é que alguém que está a braços com a justiça por corrupção pode ser Presidente durante dois anos?
O processo teve motivações exclusivamente políticas, indo muito para além da questão de direito. Paralelamente este é um Presidente sem legitimidade, o que, naturalmente, enfraquece a democracia, depois do afastamento da Presidente escolhida pelo povo soberano, Dilma Rousseff.


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