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O despertar que nunca virá

Moçambique, por estes dias, poderia ajudar a despertar para a questão central das alterações climáticas e para a necessidade de repensarmos o nosso modo de vida. Não. Procura-se salvar os vivos e enterrar os mortos e quando tudo cair no esquecimento voltamos à mesma vida, às mesmas escolhas, às mesmas ilusões que, em bom rigor, nunca abandonámos, e nem com mil Moçambiques parece-me que abandonaríamos.
Trata-se afinal do despertar que nunca acontecerá. Sabemos que planeta estás prestes a atingir o ponto de não retorno, sabemos até que atingido esse ponto estamos condenados e ainda assim continuamos a imaginar com facilidade o fim dos tempos, mas incapazes - como por muitos já foi dito - de imaginar o fim do capitalismo.
Capitalismo, com a necessidade de crescimento exponencial, e as mudanças que urge fazer são incompatíveis e esse é o ponto mais difícil e que ninguém quer verdadeiramente abordar, ou que porque consideram que está muito em jogo ou porque simplesmente não conseguem imaginar outro sistema económico e outra forma de vida. Ora a estupidez reside precisamente na impossibilidade de encontrarmos e implementarmos um sistema económico compatível com mitigação dos efeitos das alterações climáticas. Preferimos consumir desenfreadamente porque o que seria de mim sem o automóvel, o telemóvel de última geração e as viagens que me fazem sentir uma pequena-burguesa tão especial? Preferimos votar em idiotas que prometem destruir o que resta e vivemos tranquilamente com essa nossa escolha. Na verdade nós merecemos tudo o que de mal está para vir, o problema é que as próximas gerações não; assim como os moçambicanos não merecem ver parte do seu território destruído; os mais miseráveis pagam com mais miséria a opulência dos outros.

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