O processo que levou à prisão de Lula da Silva, num claro esquema
para tirar Lula da equação eleitoral, configura uma incomensurável
vergonha que, em tantos aspectos, se torna até pouco credível de
que possa mesmo acontecer. Talvez Franz Kafka conseguisse elaborar
com mais detalhe sobre uma narrativa desta natureza.
Recorde-se que Lula
foi acusado, em directo pela televisão, com direito a power-point,
de ser o chefe da Lava-jacto. No entanto, e sem provas que levassem a
onde quer que seja, os acusadores afirmaram que Lula terá comprado
um triplex como pagamento (propina) de uma construtora, numa troca de
favores. Perante a inexistência de qualquer prova, inclusivamente do
próprio título de propriedade, os acusadores defenderam que é
precisamente por causa da inexistência dessa prova que se mostra que
Lula é efectivamente culpado porque a terá escondido. Tudo
investigado por Sérgio Moro – o mesmo juiz que vem a condenar o
ex-Presidente brasileiro a 9 anos de prisão; o mesmo juiz que veio
mais tarde a ser ministro de Bolsonaro, isto apesar de ter jurado a
pés juntos nunca ter sentido quaisquer ambições políticas.
Ontem, e depois de
uma decisão do Supremo Tribunal Federal que honra os mais
elementares princípios do Estado de Direito, Lula da Silva saiu
finalmente em liberdade.
Pode-se e deve-se
discutir a corrupção que engole a Petrobrás, as construtoras e os
partidos políticos; o Partido dos Trabalhadores, a par de todos os
partidos de esquerda, devem analisar os efeitos nocivos de não se
terem mantido fiéis aos seus princípios. Mas nada disto justifica
a prisão arbitrária daquele que, segundo todas as sondagens, estava
no bom caminho para voltar a ser Presidente.
Há evidentemente
uma luta no Brasil se que faz, também, nos tribunais. Ora, é por
mais evidente de que tem sido o vencedor dessa luta, assim como é
evidente que as democracias também podem morrer nos tribunais.
Por tudo isto, a
libertação de Lula da Silva é, para já, motivo de satisfação e
de alguma esperança.
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