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O país político


Nos últimos tempos o país político encontra-se entre a propaganda do Governo e a degradação do maior partido da oposição, e os portugueses estão no meio deste mundo de veleidades e de insipiência em que se tornou a política e os partidos políticos. Existe uma realidade que raramente é assumida com frontalidade, e essa realidade é a da vida dos portugueses. Assim, parece que existem dois países: aquele que é avançado pelo Governo e o país real. A oposição existiu, quando existiu, de forma superficial e ineficiente. Agora a liderança do PSD mudou, mas já recai sobre o novo líder o fantasma do populismo. É nestas condições que os portugueses esperam que o país e as suas vidas arranquem, de uma vez por todas, para uma fase de avanços e não de constantes retrocessos.

Dir-se-á talvez que a responsabilidade pelo estado do país é de todos nós e subscreve-se inteiramente essa ideia. Não podemos é, contudo, esquecer que a classe política tem enormes responsabilidades na mudança que o país exige. E quando se assiste a um cenário político perfeitamente desolador, a mensagem que passa para os cidadãos não é propriamente de esperança num futuro melhor. Nem tão-pouco se admire quando se verifica um afastamento cada vez maior entre políticos e cidadãos.

De um modo geral, o Governo tem feito um trabalho que nem sequer é escrutinado pela oposição. As principais políticas do Governo são-nos apresentadas com pompa e circunstância, são invariavelmente apresentadas de um modo superficial, e contam com a conivência de grande parte da comunicação social. Ninguém, nem mesmo a oposição crítica, refuta ou discute essas políticas. É o caso da atribuição de subsídios a pessoas e a empresas, quando uma grande parte desses subsídios tem, por um lado, o objectivo claro de esconder uma determinada realidade funcionando como meros paliativos inconsequentes, e por outro, é uma forma de consolo a muitos subsídio-dependentes. E servem na perfeição os objectivos propagandísticos de governos vazios de ideias

Da mesma forma, poucos são aqueles, na vida político-partidária, que ousam abordar a problemática de um Estado controlador, omnipresente e paternalista – a razão para esta silêncio é óbvia: são muitos os que dependem da boa-vontade do Estado. O silêncio é geral. E a oposição, nesse particular, ou aborda estouvadamente o tema ou nem sequer toca no assunto com a clareza e acutilância necessárias. O mesmo se tem passado com áreas como a Saúde, Educação ou Justiça. Se por um lado, criticamos o Governo quando actua nestas áreas (genericamente de forma errada), por outro, somos mais condescendentes quando verificamos que a oposição não faz propostas alternativas e exequíveis e limita-se a proferir palavras de circunstância.

Não se trata aqui de se traçar um quadro demasiado inquietante – é apenas a constatação de uma realidade. Não obstante estas incongruências e fragilidades patentes nos partidos políticos, os cidadãos deste país continuam a pugnar por um futuro mais promissor – são inúmeros os exemplos de pessoas que se destacam em áreas tão diferentes como a investigação cientifica, a arquitectura, a engenharia, a literatura, etc. Nem sempre têm destaque no noticiário das 20h, mas existem e o seu trabalho é meritório e enaltece um país que é capaz de muito mais do que é reiteradamente insinuado. Parece é que, na vida dos partidos políticos, a excelência foi substituída pela insipiência, pelo oportunismo, pelo carreirismo e pela incompetência. Começam a escassear alternativas políticas e os eleitores vêem a sua vida complicada em 2009.

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