Sem
entrar em discussões sobre as vantagens ou desvantagens do proteccionismo, diga-se que foi por aqui que Trump venceu as eleições.
Dito por outras palavras: Trump fez a mensagem chegar a todos os que
perderam os seus empregos ou que viram os seus salários serem
drasticamente reduzidos ou ainda todos aqueles que receiam, mais dia
menos dia, chegar a essa situação. Tudo em consequência da
deslocalização de postos de trabalho, da emergência de economias
como a chinesa e sobretudo da postura das maiores empresas americanas
que, com toda a desfaçatez, pagam salários miseráveis fora dos EUA
e recorrem a todos os artifícios para não pagar os impostos nos
EUA.
Bem
vistas as coisas até não seria difícil adivinhar este desfecho:
bastava olhar para o Midwest americano. Exceptuando Bernie Sanders
que tinha um plano para as dificuldades crescentes de muitos
americanos, mas que não chegou a vencer as primárias do Partido
Democrata, restava Trump que entre uma javardice ou outra lá falava
nos acordos comerciais desastrosos, prometendo trazer os postos de
trabalho de regresso aos EUA. Hillary Clinton foi incapaz de
balbuciar o que quer que fosse sobre um dos assuntos mais prementes
da sociedade americana. O resultado: um desastre de proporções
inimagináveis chamado Donald Trump, coadjuvado por um Partido
Republicano maioritário que perfilhará as suas posições e
políticas e ainda por um Supremo Tribunal escolhido por esse mesmo
Partido Republicano. A tempestade perfeita cujos primeiros sinais de
desastre já nos entram pelas casas adentro.
Trump,
pouco legitimado e com uma América obviamente dividida, toma
decisões estruturais a toda a hora, desdobra-se em entrevistas e
tweets. O proteccionismo regressará como se viu por aquilo que foi
feito com o NAFTA (que é, diga-se em bom rigor, um desastre para os
trabalhadores e, à semelhança de outros acordos, nefasto para o
ambiente).
Trump
explorou este caminho em campanha eleitoral e cumprirá, como se vê.
Resta saber como reagirão as empresas americanas que até agora
esperam para ver, até porque precipitado só mesmo Trump.
Mas
será também pelo lado da economia que Trump poderá comprometer o
seu futuro político, designadamente o seu eventual desejo de ser
reeleito. Será pela economia, designadamente através do desemprego
que Trump poderá cavar a sua sepultura. Senão vejamos: nem toda a
propaganda do mundo transforma o fardo do desemprego em algo
promissor. Mas do que qualquer outro factor, escândalo ou política,
será o desemprego a condenar Trump e a inviabilizar a sua
continuação num eventual segundo mandato. Paul Krugman estima que
será impossível que a criação de emprego se mantenha aos níveis
do anos de Obama e que o emprego possa estar mais alto do que agora.
Com o aumento do desemprego, com o falhanço do proteccionismo à
moda de Trump - à bruta e sem diálogo - e com mais americanos sem
assistência médica, custa a querer que este Presidente possa ser
reeleito. Infelizmente, falta ainda muito tempo para essas novas
eleições. Até lá assistiremos a cenas deploráveis de pessoas
desesperadas nos aeroportos americanos que são impedidas de entrar
no país, em função da sua origem. Cenas que nos remetem para o
pior da espécie humana de que Trump é um excelente representante.
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