Já
se sabia que Marcelo Rebelo de Sousa não estava nada habituado a
contraditório. Foram muitos anos de conversa prazenteira e
inconsequente com uma Judite ou entrevistador similar. Todavia, não
deixa de ser surpreendente ver Marcelo afundar-se nas suas próprias
contradições. O debate com Marisa Matias teve esse condão.
Se
por um lado, os anos de televisão permitiram que o Professor
ganhasse uma visibilidade inaudita, em larga medida devido a tanta
vacuidade; por outro, esses mesmos anos contribuíram para uma
acentuada exposição de algumas posições que, se fosse possível,
o Professor gostaria de esquecer, pelo menos até às eleições.
Essas
contradições abrangem temas como a saúde, o sistema financeiro, a
aprovação do anterior governo e até a acção do Tribunal
Constitucional. Hoje essas posições podem custar votos, sobretudo
quando é necessário conquistar algum espaço ao que resta do centro
e à esquerda.
Confrontado
com algumas das suas contradições, Marcelo fica limitado ao
sorrisos e quando de facto abre a boca para responder sai-lhe
invariavelmente um pequeno conjunto de frases inconsequentes.
A
estratégia é de resto essa: sorrir, cingir-se ao simplismo e
esperar que o dia 24 chegue o mais rapidamente possível. Existe uma
multiplicidade de candidatos pouco ou nada interessantes, reconheço.
Mas daí a premiar-se a vacuidade, a falsidade e a hipocrisia vai uma
longa distância. Será mesmo isto que queremos para a Presidência?
Depois de Cavaco Silva não seria expectável uma escolha mais
assertiva? Talvez não. A comunicação social já escolheu há muito
o Presidente, e nós, parte significativa e talvez suficiente,
limita-se a corroborar essa escolha.
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