Depois
da greve dos pilotos da TAP, analisa-se quem ganhou e quem perdeu. O
professor Marcelo Rebelo de Sousa, na sua missa dominical, já
avançou com um vencedor: o Governo. Discordo. Não há vencedores,
mesmo com a opinião pública contra a greve, como frisa o professor,
todos perderam. Ou todos perdemos.
O
Governo saiu derrotado, mesmo que o professor e outros não vejam a
questão dessa forma: saiu derrotado por ter agido de forma pouco
consonante com a democracia, rejeitando o diálogo, manifestando
prepotência e, sobretudo, por se encontrar ávido por vender a TAP.
Quanto
aos pilotos, não creio que seja possível falar-se em vitória, pelo
menos do ponto de vista prático. A TAP será vendida e os pilotos,
mesmo manifestando a intenção de fazer nova greve, não conseguem
ver as suas reivindicações atendidas.
Mas
perdeu sobretudo o país que sob o jugo de um Governo prepotente e
virado para os negócios mais obscuros, está sujeito a um
empobrecimento colectivo. Paralelamente, o país aprendeu mais uma
lição: em democracia o diálogo pode ser inexoravelmente obliterado
pela avidez dos representantes políticos, sobretudo quando essa
avidez está associada a negócios, como é o caso das privatizações.
O
país perdeu e perde, consecutivamente, há pelo menos quatro anos,
na precisa medida em que escolheu para representantes políticos um
conjunto de pessoas imerso na promiscuidade entre poder político e
poder económico, anulando a ideia de soberania do povo: em Portugal,
como noutros país, é esse poder económico, coadjuvado pelo poder
político, a tomar as grandes decisões, sob o olhar impávido
daqueles que supostamente são soberanos.
Comentários