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A pobreza do discurso

O discurso político tem vindo a conhecer um substancial empobrecimento quer no que diz respeito à forma, quer no que diz respeito à substância. Quem faz parte dos principais partidos políticos esquiva-se a discussões relevantes e alimenta-se de minudências, ou, ainda, adopta a versão política "stand up comedy", mesmo carregada de sobranceria e sem qualquer resquício de graça. O primeiro-ministro parece querer inaugurar esta forma de fazer política.
O PS, na pessoa do seu líder, adopta um discurso mais parcimonioso, mas longe de ser contundente.
Os restantes partidos da oposição, mesmo que os seus líderes se mostrem donos e senhores da oratória e da dialéctica, mantêm-se arredados do interesse da comunicação social que escolhe invariavelmente curtos trechos do discurso incipientes, fragmentados e desprovidos de interesse.
Resta o Presidente da República, um fiel ajudante do Governo, cujo discurso é consonante com a vacuidade do discurso do próprio Governo. Não existem muitas formas de defender o indefensável.

Acontece amiúde que o discurso dos políticos dos principais partidos remete-nos para uma passagem do livro 1984 de George Orwell que ilustra bem a pobreza de falamos: "... teve a curiosa sensação de não se tratar de um autêntico ser humano, mas de uma espécie de manequim. Não era o cérebro do homem que emitia ideias; era a laringe que emitia sons. O que saía da boca eram palavras, mas não era fala no verdadeiro sentido; era um barulho sem consciência, como o grasnar de um pato".

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