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Imaginemos

Façamos o seguinte exercício: acordamos uma manhã com a notícia que o país deixou de ter défice e dívida. Imaginamos logo a reacção de políticos a chamar para si a responsabilidade por essa espécie de milagre e a reacção de um país que respira de alívio.
Neste cenário hipotético, pensar-se-ia que uma parte significativa dos nossos problemas estariam resolvidos. Porém, mesmo que esse cenário viesse, miraculosamente, a concretizar-se, o país continuaria a deparar-se com dificuldades de relevo, impeditivas do tão almejado desenvolvimento. É precisamente deste ponto de vista que se percebe a total ausência de um projecto, de um desígnio, num contexto de uma inexorável inexistência de visão estratégica.
O dinheiro ou a ausência dele não justifica tudo, no caso em apreço essa premissa consegue ser ainda mais verdadeira. Senão vejamos: a Justiça afundada numa mais do que evidente ineficácia; a complexidade e permanente mutabilidade do contexto fiscal; o menosprezo e pequenez com que se olha para a importância da cultura; as constantes alterações no sistema educativo; a organização e funcionalidade da Administração Pública; a corrupção e a incapacidade da justiça a fazer o seu combate; o compadrio tão característico; a promiscuidade entre poder político e poder económico; a tibieza do sector empresarial português; a inexistência de tecido produtivo. Só para citar alguns exemplos de verdadeiros óbices ao desenvolvimento do país que permaneceriam, com ou sem défice; com ou sem dívida.
De um modo geral, trata-se de um conjunto de opções, escolhas, estratégia. Estratégia essa que este Governo está longe de possuir. Imaginemos.

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