Não existe melhor palavra para caracterizar os últimos dias na Europa. Na Grécia a democracia voltou a sucumbir perante chantagens e ameaças. O primeiro-ministro grego recuou relativamente ao referendo. A sua fragilidade aumenta a cada dia que passa e hoje a pressão sobre Georgios Papandreou sobe de tom ao enfrentar um voto de confiança no seu Parlamento.
Considera-se que a Grécia é a única responsável pela sua desgraça, esquecendo-se que a desgraça da Grécia é a desgraça de toda uma Europa que abdicou dos princípios de solidariedade, de uma Europa liderada pela dupla inefável Sarkozy e Merkel empenhados exclusivamente em proteger o seu sector financeiro que durante a última década contribuiu inequivocamente para a fragilização dos países periféricos e da própria União Europeia.
A Grécia sofre humilhações atrás de humilhações. A comunicação social exulta os cidadãos fornecendo uma imagem deturpada do povo grego: trabalham pouco, não pagam impostos, viveram acima das suas possibilidades. Pelo caminho, esquecem-se de referir que o povo grego não trabalha pouco, muito pelo contrário. A tese de que os gregos, tal como os Portugueses e já agora, os Espanhóis, os Italianos ou até os Belgas viveram acima das suas possibilidades tem muito que se lhe diga. Quanto à questão fiscal, nós temos também os nossos fantasmas.
Reconhecemos que a classe política na Grécia, como em Portugal e até em Itália foi irresponsável nas escolhas que fez. No nosso país temos parcerias público-privadas cujos contratos e cuja dívida nos vai perseguir durante décadas; aqui como na Grécia as negociatas entre governantes e empresas foram ruinosas. A democracia também é feita de escolhas erradas. A desindustrialização com patrocínio europeu também é responsabilidade dos governantes destes países. E nós temos sido pródigos nessa matéria. Estes são factos insofismáveis, mas merecem ser integrados num contexto mais abrangente que é a própria moeda única. Por falar em Itália, o FMI e a UE vão supervisionar os planos de austeridade neste país. Mais austeridade, uma receita que, como se vê e como se viu no passado, deu resultados desastrosos. Veremos qual o limite do povo italiano.
Os Estados, em particular que mais dificuldades tinham foram empurrados para alimentar, através de dívida, um sector financeiro que enriqueceu desmesuradamente à custa de políticas erradas e subservientes. Não será por acaso que o BCE é acusado de rigidez, a sua natureza é limitada e revela-se contraproducente. A Europa, em particular a Zona Euro, é refém do sector financeiro. Desta forma, e como a Grécia nos ensina, a democracia sucumbe diariamente ao poder do dinheiro.
Pouco interessa para o caso que a Grécia tenha sido empurrada para a compra de material de guerra - e, apesar de todas as dificuldades ainda o é - com recurso a crédito; pouco interessa que a Grécia tenha forjado as suas contas com auxílio da Goldman Sachs (curiosamente o actual Presidente do BCE também por lá passou. O facto da banca alemã e francesa serem detentoras da dívida grega - a mesma que recrudesceu de forma incontrolável numa primeira fase quando se sabia que não era pagável e mais recentemente através de exercícios sádicos através da imposição de juros nunca vistos, também pouca relevância terá.
Assim como não é determinante perceber a Europa está nas mãos de uma dupla inefável, coadjuvada pelo governo holandês e finlandês, que se agarra a uma ideologia caduca como outros o fizeram no passado. Do mesmo modo, que interesse é que haverá em estudar as dívidas alemãs nos últimos 60 anos? E já agora, o que é vale a democracia? Qual a sua importância num contexto em que os mercados e os seus arautos ditam as regras?
O que a comunicação social nos diz indirectamente e diariamente é que os gregos têm de escolher entre a democracia e a pobreza. A democracia é, como se vê, anódina e a pobreza uma realidade que se instalou. O Sr. Sarkozy chegou ao ponto de proferir ameaças ao povo grego, porque a Grécia é o povo grego.
Em bom rigor, não se está à espera que o Sr. Sarkozy olhe para a História com atenção, mas se o fizer perceberá que os povos têm um limite e quando esse limite é ultrapassado poderá não haver política que impeça que esse povo adopte outras formas de lidar com esse problema.
Em conclusão, fazer-se a defesa da Grécia é uma tarefa que se revela amiúde inglória. A maior parte de nós sente-se aliviada ao pensar que somos diferentes e que a responsabilidade é integralmente de um povo. É mais fácil do que perceber que temos mais em comum com esse Estado pária; é mais fácil do que perceber que as falhas estão na própria Zona Euro e nas políticas que lhe subjazem. É cómodo pensarmos assim, talvez dessa forma consigamos afastar das nossas cabeças a ideia de que nós seremos os próximos, com ou sem bom comportamento.
Reitero aquilo que tenho vindo a dizer ao longo deste ano: o que se está a fazer ao povo Grego é uma vergonha inqualificável e nós com o nosso silêncio e, pior, com a nossa conivência e gáudio somos responsáveis por uma situação que a História contará e descreverá precisamente como sendo vergonhosa.
Considera-se que a Grécia é a única responsável pela sua desgraça, esquecendo-se que a desgraça da Grécia é a desgraça de toda uma Europa que abdicou dos princípios de solidariedade, de uma Europa liderada pela dupla inefável Sarkozy e Merkel empenhados exclusivamente em proteger o seu sector financeiro que durante a última década contribuiu inequivocamente para a fragilização dos países periféricos e da própria União Europeia.
A Grécia sofre humilhações atrás de humilhações. A comunicação social exulta os cidadãos fornecendo uma imagem deturpada do povo grego: trabalham pouco, não pagam impostos, viveram acima das suas possibilidades. Pelo caminho, esquecem-se de referir que o povo grego não trabalha pouco, muito pelo contrário. A tese de que os gregos, tal como os Portugueses e já agora, os Espanhóis, os Italianos ou até os Belgas viveram acima das suas possibilidades tem muito que se lhe diga. Quanto à questão fiscal, nós temos também os nossos fantasmas.
Reconhecemos que a classe política na Grécia, como em Portugal e até em Itália foi irresponsável nas escolhas que fez. No nosso país temos parcerias público-privadas cujos contratos e cuja dívida nos vai perseguir durante décadas; aqui como na Grécia as negociatas entre governantes e empresas foram ruinosas. A democracia também é feita de escolhas erradas. A desindustrialização com patrocínio europeu também é responsabilidade dos governantes destes países. E nós temos sido pródigos nessa matéria. Estes são factos insofismáveis, mas merecem ser integrados num contexto mais abrangente que é a própria moeda única. Por falar em Itália, o FMI e a UE vão supervisionar os planos de austeridade neste país. Mais austeridade, uma receita que, como se vê e como se viu no passado, deu resultados desastrosos. Veremos qual o limite do povo italiano.
Os Estados, em particular que mais dificuldades tinham foram empurrados para alimentar, através de dívida, um sector financeiro que enriqueceu desmesuradamente à custa de políticas erradas e subservientes. Não será por acaso que o BCE é acusado de rigidez, a sua natureza é limitada e revela-se contraproducente. A Europa, em particular a Zona Euro, é refém do sector financeiro. Desta forma, e como a Grécia nos ensina, a democracia sucumbe diariamente ao poder do dinheiro.
Pouco interessa para o caso que a Grécia tenha sido empurrada para a compra de material de guerra - e, apesar de todas as dificuldades ainda o é - com recurso a crédito; pouco interessa que a Grécia tenha forjado as suas contas com auxílio da Goldman Sachs (curiosamente o actual Presidente do BCE também por lá passou. O facto da banca alemã e francesa serem detentoras da dívida grega - a mesma que recrudesceu de forma incontrolável numa primeira fase quando se sabia que não era pagável e mais recentemente através de exercícios sádicos através da imposição de juros nunca vistos, também pouca relevância terá.
Assim como não é determinante perceber a Europa está nas mãos de uma dupla inefável, coadjuvada pelo governo holandês e finlandês, que se agarra a uma ideologia caduca como outros o fizeram no passado. Do mesmo modo, que interesse é que haverá em estudar as dívidas alemãs nos últimos 60 anos? E já agora, o que é vale a democracia? Qual a sua importância num contexto em que os mercados e os seus arautos ditam as regras?
O que a comunicação social nos diz indirectamente e diariamente é que os gregos têm de escolher entre a democracia e a pobreza. A democracia é, como se vê, anódina e a pobreza uma realidade que se instalou. O Sr. Sarkozy chegou ao ponto de proferir ameaças ao povo grego, porque a Grécia é o povo grego.
Em bom rigor, não se está à espera que o Sr. Sarkozy olhe para a História com atenção, mas se o fizer perceberá que os povos têm um limite e quando esse limite é ultrapassado poderá não haver política que impeça que esse povo adopte outras formas de lidar com esse problema.
Em conclusão, fazer-se a defesa da Grécia é uma tarefa que se revela amiúde inglória. A maior parte de nós sente-se aliviada ao pensar que somos diferentes e que a responsabilidade é integralmente de um povo. É mais fácil do que perceber que temos mais em comum com esse Estado pária; é mais fácil do que perceber que as falhas estão na própria Zona Euro e nas políticas que lhe subjazem. É cómodo pensarmos assim, talvez dessa forma consigamos afastar das nossas cabeças a ideia de que nós seremos os próximos, com ou sem bom comportamento.
Reitero aquilo que tenho vindo a dizer ao longo deste ano: o que se está a fazer ao povo Grego é uma vergonha inqualificável e nós com o nosso silêncio e, pior, com a nossa conivência e gáudio somos responsáveis por uma situação que a História contará e descreverá precisamente como sendo vergonhosa.
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