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Acordo histórico

O acordo estabelecido entre Estados Unidos e Rússia quanto à não proliferação nuclear é verdadeiramente histórico não só pela estabilização das relações entre os dois países, bem como pelo compromisso real de ambos em reduzir significativamente o seu arsenal nuclear. Este é também um sinal para outros países que insistem no desenvolvimento de tecnologia nuclear com fins não pacíficos, designadamente o Irão.

Por outro lado, o primeiro ministro israelita, Benjamin Netanyahu, não vai estar presente na cimeira sobre segurança nuclear a realizar-se na próxima semana. A sua ausência prende-se inevitavelmente com a opacidade que recai sobre a capacidade nuclear de Israel que se supõe seja o único detentor de armas nucleares no Médio Oriente. Além disso, numa altura em que as duas maiores potências nucleares assinaram um acordo para reduzir os seus arsenais, países que não assumem a sua capacidade nuclear não encontram agora a altura ideal para abordar esse assunto.

Quanto ao Irão, o regime dos ayatollahs insiste numa postura de constante provocação, contando com a pressão dos EUA, da União Europeia e até da Rússia, para que não insista no desenvolvimento nuclear. São sobejamente conhecidas as mais do possíveis consequências de um Irão nuclear: desde a corrida dos países vizinhos a este tipo de armamento, com a Arábia Saudita à cabeça, passando pela reacção de Israel e de um possível conflito de natureza muito mais grave do que aquela a que temos assistido na região. Todavia, e não obstante as consequências dramáticas que um Irão nuclear possa vir a ter, o regime não desiste desse seu objectivo que serve também para novas demonstrações ultranacionalistas que permitem, na óptica do regime, amenizar o clima de alguma instabilidade interna que se vive nos últimos meses.

Voltando ao acordo firmado entre EUA e Rússia, importa sublinhar que as relações cada vez mais estáveis entre estes dois países são um excelente auspício para a estabilidade a nível global. Ora, essa boa relação pode agora alargar-se a outras áreas de interesse e influência dos dois países, estabelecendo-se novos tipos de parcerias que fazem todo o sentido num mundo cada vez mais multipolar. Contudo, quando se aborda a questão do nuclear, existem outras variáveis que importa ter em conta, em particular a capacidade nuclear da Coreia do Norte e a necessidade da China passar a ter outro papel nesta matéria. O Paquistão é outra variável que tem que ser constantemente escrutinada: trata-se de um país em constante turbulência e onde o islamismo radical encontra terreno fértil.

Em suma, o acordo entre EUA e Rússia sobre o armamento nuclear é de extrema proficuidade, mas esse acordo tem que ser um principio e um exemplo para que outros países assumam e reduzam a sua capacidade para desenvolver um tipo de armamento que põe em causa a própria existência humana.

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