Avançar para o conteúdo principal

Pensar o Estado

Este princípio de ano é indelevelmente marcado pela confluência de três crises: uma crise económica, uma crise na Justiça e, mais recentemente, uma crise política. Enquanto a crise na Justiça que já existia, mas que se tem vindo a agudizar, põe em causa o Estado de Direito e compromete a democracia, a crise económica não será nem debelada nem resolvida enquanto perdurar a crise política que se traduz na acentuada fragilização do Governo, desgastado com o caso "Face Oculta".
Ora, nestas circunstâncias, uma discussão sobre o Estado é praticamente inviável, embora se perceba a urgência dessa discussão. Afinal de contas, é preciso discutir as relações entre Estado e empresas privadas e se este modelo de Estado que vigora não potencia uma proximidade contraproducente em que se mistura poder político e poder económico.
Paralelamente, será de uma enorme proficuidade analisar os resultados que o modelo de Estado actual produz, designadamente, se o Estado não tem vindo a perder a sua principal função, que é servir os cidadãos. A questão impõe-se quando se percebe que o Estado gasta demasiado com o seu funcionamento, tornando-se evidente que este é agora o seu objectivo. A questão de servir os cidadãos, em particular, aqueles que mais necessitam nunca foi, em rigor, o cerne das preocupações do Estado.
De facto, o Estado parece existir em função de si próprio e não em função dos cidadãos. O Estado, suportado pelo Governo, mas também, em larga medida, pela oposição, tem apenas uma preocupação: subsistir, não operando mudanças de fundo. É assim que se verifica a relutância em se empreender reformas que permitam agilizar o seu funcionamento e reduzir a despesa. Será importante dizer que em Portugal o Estado confunde-se com o país, havendo muitos que mantém relações de excessiva dependência do Estado - sob as mais diversas formas. A consequência da manutenção deste modelo é visível aos olhos de todos: ou se tem as tais relações privilegiadas ou se tem manifestas dificuldades em alcançar resultados palpáveis.
Na verdade a discussão sobre o papel do Estado, sobre o seu peso e funcionamento, é antiga. Mas acaba invariavelmente por se reduzir a duas posições: os que clamam por mais Estado, e os que advogam o Estado mínimo ou zero. Uns e outros não estão satisfeitos com o Estado português tal como ele é: ineficiente, oneroso, omnipotente e omnipresente. Assim, é fundamental que se procurem soluções para reformar o Estado, trazê-lo para o século XXI e para próximo dos cidadãos, mas não tão próximo que nos entre pela casa a dentro. Todavia, importa sublinhar que pensar o Estado não significa reduzi-lo à insignificância. Continuamos a precisar, e agora talvez mais do que nunca, de um Estado supervisor, regulador e que garanta serviços de qualidade aos cidadãos, que não abdique de tratar todos de forma equitativa.
Dir-se-á que esta não é a altura mais oportuna para se ter esta discussão. Mas a verdade é que esta altura é a ideal, o país precisa de mudar a página e ultrapassar os problemas, e essa mudança de página passa também por repensar o modelo de Estado que vigora em Portugal.

Comentários

CUPRA R disse…
Um primeiro ponto, se bem que uma empresa é privada ou é pública, porque isto do público e privado ao mesmo tempo dá uma certa promiscuidade à relação. Pois como se verifica estas empresas geralmente dão prejuízo, muito provável-mente por má gestão, má mas muito bem paga muito bem mesmo chegando alguns salários a ser obscenos. Por mim começava a cortar aqui e ia por aí afora era um tal de poupar e que só acabava nas prestações sociais pois aí também há muita gente a mamar que devia era ter vergonha, porque se não precisa realmente, devia era ir trabalhar pois está a retirar aos mais necessitados. Com esta fórmula reduzia-se o défice em alguns pontos percentuais. Mas o mais certo era não ser reeleito. Mas há que tê-los no sítio para fazer o que precisa de ser feito para levar este País para a frente. Meus amigos esqueçamos as cores, amizades pouco claras, favores, e dividas politicas. Vamos mas é praticar boa politica que nos faça andar para a frente e nos tire da cauda da Europa porque sinceramente eu estou farto de ser abanado de um lado (PS) para o outro (PSD)e não ir a lado nenhum. Vamos mas é construir um Portugal mais forte mais unido com verdadeiros cidadãos, mas para isso é preciso um bom Estado independentemente do Partido que se encontra no Poder.

Mensagens populares deste blogue

Saídas para os impasses

As últimas semanas têm sido pródigas na divulgação de escândalos envolvendo o primeiro-ministro e as suas obrigações com a Segurança Social e com o Fisco. Percebe-se que os princípios éticos associados ao desempenho de funções políticas são absolutamente ignorados por quem está à frente dos destinos do país - não esquecer que o primeiro-ministro já havia sido deputado antes de se esquecer de pagar as contribuições à Segurança Social. A demissão está fora de questão até porque o afastamento do cargo implica, por parte do próprio, um conjunto de princípios que pessoas como Passos Coelho simplesmente não possuem. A oposição, a poucos meses de eleições, parece preferir que o primeiro-ministro coza em lume brando. E com tanta trapalhada insistimos em não discutir possíveis caminhos e saídas para os impasses com que o país se depara. Governo e oposição (sobretudo o Partido Socialista) agem como se não tivessem de possuir um único pensamento político. Assim, continuamos sem saber o que...

Fim do sigilo bancário

Tudo indica que o sigilo bancário vai ter um fim. O Partido Socialista e o Bloco de Esquerda chegaram a um entendimento sobre a matéria em causa - o Bloco de Esquerda faz a proposta e o PS dá a sua aprovação para o levantamento do sigilo bancário. A iniciativa é louvável e coaduna-se com aquilo que o Bloco de Esquerda tem vindo a propor com o objectivo de se agilizar os mecanismos para um combate eficaz ao crime económico e ao crime de evasão fiscal. Este entendimento entre o Bloco de Esquerda e o Partido Socialista também serve na perfeição os intentos do partido do Governo. Assim, o PS mostra a sua determinação no combate à corrupção e ao crime económico e, por outro lado, aproxima-se novamente do Bloco de Esquerda. Com efeito, a medida, apesar de ser tardia, é amplamente aplaudida e é vista como um passo certo no combate à corrupção, em particular quando a actualidade é fortemente marcada por suspeições e por casos de corrupção. De igual forma, as perspectivas do PS conseguir uma ma...

Outras verdades

 Ontem realizou-se o pior debate da história das presidenciais americanas. Trump, boçal, mentiroso, arrogante e malcriado, versus Biden que, apesar de ter garantido tudo fazer  para não cair na esparrela do seu adversário, acabou mesmo por cair, apelidando-o de mentiroso e palhaço.  Importa reconhecer a incomensurável dificuldade que qualquer ser humano sentiria se tivesse que debater com uma criança sem qualquer educação. Biden não foi excepção. Trump procurou impingir todo o género de mentiras, que aos ouvidos dos seus apoiante soam a outras verdades, verdades superiores à própria verdade. Trump mentiu profusamente, até sobre os seus pretensos apoios. O sheriff de Portland, por exemplo, já veio desmentir que alguma vez tivesse expressado apoio ao ainda Presidente americano. Diz-se por aí que Trump arrastou Biden para a lama. Eu tenho uma leitura diferente: Trump tem vindo a arrastar os EUA para lama. Os EUA, nestes árduos anos, tem vindo a perder influência e reputação ...