O caso Face Oculta vem novamente mostrar ao país a promiscuidade existente entre quem se ocupa de cargos públicos, muitos deles de cariz político, e empresas privadas. Mostra também que a política serve apenas quem se ocupa dela e raras vezes serve para salvaguardar o interesse do país. Ora, casos como este não são propriamente novidade e apenas vêm comprovar a ideia que sustenta a existência de elevada corrupção no nosso país. O que este caso mostra também é a degradação de um regime - dito democrático - em que uma vasta maioria luta diariamente para ter uma vida condigna, e um grupo de priveligiados se ocupa do Estado e dos seus assuntos para salvaguardar os seus próprios interesses. É precisamente a qualidade da nossa democracia que é posta em causa por senhores que chegaram onde chegaram graças à política. Não admira, pois, que a política e os políticos que, ao longo dos anos se mostram impotentes para resolver os problemas mais prementes do país e simultaneamente ainda abusam dos cargos que ocupam, são vistos como uma classe desprestigiante e responsável pela miséria que no dia-a-dia o país se vai tornando. Em bom rigor, este caso afecta a imagem do Governo que sob a sua tutela deixou que a situação atingisse o ponto que atingiu; mas o caso afecta sobretudo o partido do Governo ao mostrar a rede de cumplicidades e influências que existe em torno do PS. Em suma, já não chegava o elevado grau de inépcia e incompetência de quem está na cúpula do poder, ainda vem a lume que essa mesma cúpula nada faz para contrariar a crescente corrupção que vai corroendo o sistema democrático. Sublinhe-se a falta de vontade política manifestada pelo Governo em tornar o combate à corrupção mais agerrido. Só essa falta de vontade já mostra que algo vai mal no reino de José Sócrates. Mas nem isso inibiu muitos portugueses de darem novo voto de confiança ao recém-eleito primeiro-ministro, comprovando a velha máxima de que nós temos, de facto, o que merecemos.
As últimas semanas têm sido pródigas na divulgação de escândalos envolvendo o primeiro-ministro e as suas obrigações com a Segurança Social e com o Fisco. Percebe-se que os princípios éticos associados ao desempenho de funções políticas são absolutamente ignorados por quem está à frente dos destinos do país - não esquecer que o primeiro-ministro já havia sido deputado antes de se esquecer de pagar as contribuições à Segurança Social. A demissão está fora de questão até porque o afastamento do cargo implica, por parte do próprio, um conjunto de princípios que pessoas como Passos Coelho simplesmente não possuem. A oposição, a poucos meses de eleições, parece preferir que o primeiro-ministro coza em lume brando. E com tanta trapalhada insistimos em não discutir possíveis caminhos e saídas para os impasses com que o país se depara. Governo e oposição (sobretudo o Partido Socialista) agem como se não tivessem de possuir um único pensamento político. Assim, continuamos sem saber o que...
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