Avançar para o conteúdo principal

O eterno adiar de um problema

O estatuto da carreira docente e o modelo de avaliação dos professores dão uma nova dimensão ao problema da educação. Sendo certo que a educação nunca foi caracterizada pelo consensos, a verdade é que se torna cada vez mais difícil cercear o nosso calcanhar de Aquiles. A formação dos cidadãos passa incontornavelmente pela escola, já para não falar da formação dos recursos humanos - a pedra basilar das economias. Consequentemente, adiar este problema é adiar o futuro do país.
A visão que a ministra Maria de Lurdes Rodrigues tem para a Educação está impregnada de uma lógica de resultados a qualquer preço e de políticas economicistas. O modelo de avaliação está falido politicamente, tal como a própria ministra; os consensos estão longe de serem alcançados; os professores estão unidos, como talvez nunca tenham estado; os cidadãos estão cansados desta novela e com cada vez menos expectativas em relação ao futuro.
De um modo geral, o problema da educação para além de ser ostensivamente adiado, tem vindo a agravar-se. Politicamente, o problema não é tão grave quanto se possa pensar, pelo menos para as aspirações eleitoriais do primeiro-ministro e do seu partido, designadamente porque o problema está confinado ao universo dos professores. Os cidadãos têm mais com que se preocupar. E embora o problema da Educação tenha custos incomensuráveis para o país, essa não é uma área que abane as hostes, como foi, por exemplo, a àrea da Saúde.
Mas os custos são, de facto, incomportáveis para o país. Quando os recursos humanos são anódinos do ponto de vista da formação, isso tem reflexos na produtividade e competitividade da economia. Além da inevitável continuação do processo de empobrecimento do país, a tibieza na formação dos recursos humanos tem também reflexos na construção da própria democracia, senão vejamos: não há em Portugal uma sociedade civil forte, não há em Portugal um conceito de cidadania activa consolidado. Essas lacunas são dramáticas.
Nestas circunstâncias, continuar a adiar o problema da Educação é, simplesmente, incompreensível. Exige-se assim de todos os intervenientes que procurem soluções. O país, esse, é que está farto de esperar.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Normalização do fascismo

O PSD Açores, e naturalmente com a aprovação de Rui Rio, achou por bem coligar-se com o "Chega". Outros partidos como o Iniciativa Liberal (IL) e o CDS fizeram as mesmas escolhas, ainda que o primeiro corra atrás do prejuízo, sobretudo agora que a pandemia teve o condão de mostrar a importância do Estado Social que o IL tão avidamente pretende desmantelar, e o segundo se tenha transformado numa absoluta irrelevância. Porém, é Rui Rio, o mesmo que tem cultivado aquela imagem de moderado, que considera que o "Chega" nos Açores é diferente do "Chega" nacional. Rui Rio, o moderado, considera mesmo que algumas medidas do "Chega" como a estafada redução do Rendimento Social de Inserção é um excelente medida. Alheio às características singulares da região, Rui Rio pensa que com a ajuda do "Chega" vai tirar empregos da cartola para combater a subsidiodependência de que tanto fala, justificando deste modo a normalização que está a fazer de um pa...

Fim do sigilo bancário

Tudo indica que o sigilo bancário vai ter um fim. O Partido Socialista e o Bloco de Esquerda chegaram a um entendimento sobre a matéria em causa - o Bloco de Esquerda faz a proposta e o PS dá a sua aprovação para o levantamento do sigilo bancário. A iniciativa é louvável e coaduna-se com aquilo que o Bloco de Esquerda tem vindo a propor com o objectivo de se agilizar os mecanismos para um combate eficaz ao crime económico e ao crime de evasão fiscal. Este entendimento entre o Bloco de Esquerda e o Partido Socialista também serve na perfeição os intentos do partido do Governo. Assim, o PS mostra a sua determinação no combate à corrupção e ao crime económico e, por outro lado, aproxima-se novamente do Bloco de Esquerda. Com efeito, a medida, apesar de ser tardia, é amplamente aplaudida e é vista como um passo certo no combate à corrupção, em particular quando a actualidade é fortemente marcada por suspeições e por casos de corrupção. De igual forma, as perspectivas do PS conseguir uma ma...

Mais uma indecência a somar-se a tantas outras

 O New York Times revelou (parte) o que Donald Trump havia escondido: o seu registo fiscal. E as revelações apenas surpreendem pelas quantias irrisórias de impostos que Trump pagou e os anos, longos anos, em que não pagou um dólar que fosse. Recorde-se que todos os presidentes americanos haviam revelado as suas declarações, apenas Trump tudo fizera para as manter sem segredo. Agora percebe-se porquê. Em 2016, ano da sua eleição, o ainda Presidente americano pagou 750 dólares em impostos, depois de declarar um manancial de prejuízos, estratégia adoptada nos tais dez anos, em quinze, em que nem sequer pagou impostos.  Ora, o homem que sempre se vangloriou do seu sucesso como empresário das duas, uma: ou não teve qualquer espécie de sucesso, apesar do estilo de vida luxuoso; ou simplesmente esta foi mais uma mentira indecente, ou um conjunto de mentiras indecentes. Seja como for, cai mais uma mancha na presidência de Donald Trump que, mesmo somando indecências atrás de indecência...