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Angola: uma oportunidade de mudança

Depois de uma guerra civil cujo fim não se vislumbrava, Angola tem vindo, desde então, a mudar. As mudanças ainda estão longe daquilo que seria necessário e são mais notórios em volta dos grandes centros urbanos, designadamente Luanda; há, porém, uma vasta maioria de Angolanos que não tem acesso a um bem-estar social condigno. Apesar de tudo, estas eleições legislativas, a realizarem-se no dia 5 deste mês, podem trazer algumas mudanças necessárias a um país rico em recursos naturais.
É verdade que as eleições do próximo ano (presidenciais) têm uma importância pouco comparável, mas ainda assim, o clima de estabilidade que tem antecedido o acto eleitoral de 5 de Setembro é um bom presságio para o país.
É impossível traçar-se cenários sobre os resultados das legislativas, embora me pareça óbvio que o MPLA (partido do Presidente José Eduardo dos Santos) será o partido vencedor. Se assim for, as tais mudanças poderão ter de aguardar mais algum tempo até se concretizarem. Diga-se em abono da verdade que mesmo que a UNITA ou até o FNLA vencessem as eleições legislativas, o poder de facto continuará nas mesmas mãos. Com efeito, só em 2009 é que se poderá falar de uma verdadeira mudança em Angola.
Apesar dos vários entraves à mudança, o país não tem outra alternativa que não passe pela aceitação dessas transformações. Aliás, é possível fazer-se negócios num contexto ditatorial, mas esses negócios serão sempre condicionados pela corrupção e pela vontade do regime – assim, são atraídos países como a China que se dá bem com os ares do autoritarismo e da ausência de democracia. Mas até isto terá custos: as empresas chinesas impõem condições prejudiciais para os Angolanos, só a título de exemplo, a generalidade das empresas chinesas só emprega Chineses, contribuindo assim para o aumento da taxa de desemprego entre os Angolanos que, segundo algumas estimativas, atinge os 40 por cento.
Neste contexto, a necessidade de mudança tornar-se-á impossível de contornar. A abertura do regime proporcionará a possibilidade de se alargar o leque de negócios, numa perspectiva de maior transparência e com maiores benefícios para os Angolanos.
Até José Eduardo dos Santos, mais cedo ou mais tarde, terá que perceber que se a riqueza de uns ficar apenas nas mãos dessa minoria, a paciência do povo esgotar-se-á. E talvez já tenha percebido. O clima de estabilidade e relativa normalidade que tem antecedido as eleições legislativas são um claro sinal de mudança em Angola.

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