
A guerra no Cáucaso vem trazer novamente à colação o problema que a independência do Kosovo criou. Relembre-se que esta região que fazia parte integrante da Sérvia declarou a sua independência porque contava com o efectivo apoio dos EUA. O território sérvio acabou assim por ser amputado com o claro beneplácito dos Estados Unidos e de alguns Estados-membros da União Europeia. Portugal é, ainda, uma saudável excepção.
Hoje evoca-se, como era esperado, o precedente do Kosovo quando se discute o problema da Ossétia do Sul e da Abkhásia. Nestas circunstâncias, os EUA sublinham a importância da integridade territorial da Geórgia quando noutras circunstâncias foram os principais incitadores da separação de uma região de um Estado soberano. Fica, no mínimo, uma amarga sensação de hipocrisia.
A situação no Cáucaso é potencialmente explosiva: os sentimentos nacionalistas exacerbados e a miscelânea étnica são os principais ingredientes de novos potenciais focos de instabilidade com base nas vontades separatistas. Sobre esta matéria, a Rússia não age de forma mais coerente. Recorde-se que o Presidente russo da altura, hoje primeiro-ministro, Vladimir Putin, manifestou a sua veemente recusa em aceitar um Kosovo independente com base na integridade territorial da Sérvia; hoje, o mesmo Vladimir Putin é um dos principais responsáveis pela tentativa de amputar o território georgiano, na medida em que a acção militar russa na Ossétia do Sul e os constantes ataques à Geórgia visam a independência de facto da Ossétia do Sul. Claro que se tratará inevitavelmente de uma Ossétia do Sul sob o poder russo.
De um modo geral, o precedente que a independência do Kosovo criou não é indissociável da guerra que se vive hoje no Cáucaso. No caso da política externa americana, o erro é evidente. No caso da Rússia, a situação pode ser bem pior tendo em conta que este país conta no seu seio com várias regiões cujos ímpetos separatistas são combatidos com ferocidade, mas que, apesar disso, podem sofrer um recrudescimento.
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