Avançar para o conteúdo principal

Jogos de guerra

A tensão no Médio Oriente aumenta com a demonstração de força do Irão e, no mês passado, com movimentos militares israelitas. Estes jogos de guerra – as fotografias, ainda assim manipuladas, de testes de mísseis iranianos são apenas os exemplos mais recentes – agravam as relações entre Israel e o Irão. Recorde-se que o Presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, tem sido pródigo em afirmações que preconizam o desaparecimento de Israel, e mais recentemente, o aiatola Ali Khamenei ameaçou incendiar Telavive. As ameaças não ficaram por aí: já esta semana o regime iraniano ameaçou directamente o Estado israelita e as bases norte-americanas na região.
Se por um lado, alguns analistas duvidam da concretização de uma acção militar israelita contra o Irão, sem o apoio norte-americano; por outro, muitos analistas têm reiterado a possibilidade desse ataque ocorrer muito brevemente, mesmo sem o apoio incondicional dos EUA.
Com efeito, a Administração Bush já tem dificuldades em lidar com o Afeganistão e com o Iraque, dispensando assim um terceiro conflito. Além disso, o enfraquecimento dos Estados Unidos, designadamente da actual Administração, é um elemento central a ter em conta nesta questão. Aliás, foi essa tibieza americana, associada ao desvanecimento da ameaça iraquiana, que permitiu ao Irão procurar, quase instantaneamente, a hegemonia regional – a capacidade nuclear facultar-lhe-á essa hegemonia regional, em desfavor de Israel e dos Estados Unidos.
O cenário de um ataque perpetrado por Israel a instalações nevrálgicas iranianas é plausível. Ainda no ano passado, Israel terá atacado instalações sírias. A questão é saber quando e se isso será feito à revelia dos EUA. A possibilidade de Israel excluir o seu maior aliado é remota, mas uma participação mais contundente dos EUA também poderá ser muito pouco provável.
De igual modo, um novo conflito no Médio Oriente poderia ter resultados catastróficos, e as ameaças iranianas de inviabilização do estreito de Ormuz (40 por cento do petróleo passa por este estreito) constituem mais razões para se continuar a insistir na via diplomática de modo a solucionar o problema. Todavia, essa via poderá não surtir os efeitos necessários, e é igualmente possível que as autoridades israelitas não estejam dispostas a esperar mais. Em última análise, trata-se disso mesmo – da sobrevivência de Israel. E todos sabemos que quando a questão é sobreviver, todos os meios são válidos.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Mais uma indecência a somar-se a tantas outras

 O New York Times revelou (parte) o que Donald Trump havia escondido: o seu registo fiscal. E as revelações apenas surpreendem pelas quantias irrisórias de impostos que Trump pagou e os anos, longos anos, em que não pagou um dólar que fosse. Recorde-se que todos os presidentes americanos haviam revelado as suas declarações, apenas Trump tudo fizera para as manter sem segredo. Agora percebe-se porquê. Em 2016, ano da sua eleição, o ainda Presidente americano pagou 750 dólares em impostos, depois de declarar um manancial de prejuízos, estratégia adoptada nos tais dez anos, em quinze, em que nem sequer pagou impostos.  Ora, o homem que sempre se vangloriou do seu sucesso como empresário das duas, uma: ou não teve qualquer espécie de sucesso, apesar do estilo de vida luxuoso; ou simplesmente esta foi mais uma mentira indecente, ou um conjunto de mentiras indecentes. Seja como for, cai mais uma mancha na presidência de Donald Trump que, mesmo somando indecências atrás de indecências, vai fa

Normalização do fascismo

O PSD Açores, e naturalmente com a aprovação de Rui Rio, achou por bem coligar-se com o "Chega". Outros partidos como o Iniciativa Liberal (IL) e o CDS fizeram as mesmas escolhas, ainda que o primeiro corra atrás do prejuízo, sobretudo agora que a pandemia teve o condão de mostrar a importância do Estado Social que o IL tão avidamente pretende desmantelar, e o segundo se tenha transformado numa absoluta irrelevância. Porém, é Rui Rio, o mesmo que tem cultivado aquela imagem de moderado, que considera que o "Chega" nos Açores é diferente do "Chega" nacional. Rui Rio, o moderado, considera mesmo que algumas medidas do "Chega" como a estafada redução do Rendimento Social de Inserção é um excelente medida. Alheio às características singulares da região, Rui Rio pensa que com a ajuda do "Chega" vai tirar empregos da cartola para combater a subsidiodependência de que tanto fala, justificando deste modo a normalização que está a fazer de um pa

Outras verdades

 Ontem realizou-se o pior debate da história das presidenciais americanas. Trump, boçal, mentiroso, arrogante e malcriado, versus Biden que, apesar de ter garantido tudo fazer  para não cair na esparrela do seu adversário, acabou mesmo por cair, apelidando-o de mentiroso e palhaço.  Importa reconhecer a incomensurável dificuldade que qualquer ser humano sentiria se tivesse que debater com uma criança sem qualquer educação. Biden não foi excepção. Trump procurou impingir todo o género de mentiras, que aos ouvidos dos seus apoiante soam a outras verdades, verdades superiores à própria verdade. Trump mentiu profusamente, até sobre os seus pretensos apoios. O sheriff de Portland, por exemplo, já veio desmentir que alguma vez tivesse expressado apoio ao ainda Presidente americano. Diz-se por aí que Trump arrastou Biden para a lama. Eu tenho uma leitura diferente: Trump tem vindo a arrastar os EUA para lama. Os EUA, nestes árduos anos, tem vindo a perder influência e reputação e Trump é o ma