Avançar para o conteúdo principal

Angola: eleições

As eleições legislativas, a decorrer em Setembro em Angola, podem ser de grande importância para todo o contexto africano. Esta é a ideia que profusamente é divulgada por especialistas e pela comunicação social; isto é, quando o tema das eleições angolanas tem algum interesse para a comunicação social, em particular para a comunicação social portuguesa.
As expectativas que se cria em torno das eleições que decorrem num país sob o jugo de um autocrata, podem sair totalmente goradas. A ideia de que as eleições angolanas poderem ser um exemplo para todo o continente africano só é viável se as mesmas tiverem lugar dentro da normalidade democrática de qualquer processo legislativo. Essa normalidade pressupõe a transparência do acto eleitoral. Ora, estas serão as primeiras eleições desde 1992, altura em que o processo eleitoral falhou. Mesmo tendo em consideração uma mudança no contexto político angolano – o fim da guerra civil –, dificilmente se poderá considerar que as eleições em Angola poderão ser um exemplo para toda a África.
De um modo geral, seria profícuo se a mudança que poderia advir das eleições favorecessem o povo angolano que, na sua maioria, se vê privado de ter uma vida condigna. Nestas circunstâncias, a alternância de poder é condição decisiva para acalentar as esperanças do povo angolano. Honestamente, não se pode estar à espera que o regime encabeçado por José Eduardo dos Santos venha a proceder de forma diferente daquela que tem adoptado, resvalando para a cleptocracia.
É evidente que o passado de Angola, repleto de divisões, não é o melhor contexto para que ecluda uma reaproximação. Recorde-se, a propósito, o passado do partido do Presidente Eduardo dos Santos, o MPLA apoiado pela URSS, detentor das riquezas petrolíferas, e apoiado militarmente por Cuba; enquanto a UNITA, de inspiração maoísta, procurou apoios no Ocidente e na África do Sul, enquanto dominava o negócio dos diamantes.
Mas o fim da guerra proporciona o palco ideal para a reconciliação e para a construção de um país mais igual, embora a guerra já tenha conhecido um fim há mais de cinco anos. Resta saber se isso se coaduna com a existência de um regime cleptocráta, e se esse regime vai permitir que as eleições decorram dentro da normalidade.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Mais uma indecência a somar-se a tantas outras

 O New York Times revelou (parte) o que Donald Trump havia escondido: o seu registo fiscal. E as revelações apenas surpreendem pelas quantias irrisórias de impostos que Trump pagou e os anos, longos anos, em que não pagou um dólar que fosse. Recorde-se que todos os presidentes americanos haviam revelado as suas declarações, apenas Trump tudo fizera para as manter sem segredo. Agora percebe-se porquê. Em 2016, ano da sua eleição, o ainda Presidente americano pagou 750 dólares em impostos, depois de declarar um manancial de prejuízos, estratégia adoptada nos tais dez anos, em quinze, em que nem sequer pagou impostos.  Ora, o homem que sempre se vangloriou do seu sucesso como empresário das duas, uma: ou não teve qualquer espécie de sucesso, apesar do estilo de vida luxuoso; ou simplesmente esta foi mais uma mentira indecente, ou um conjunto de mentiras indecentes. Seja como for, cai mais uma mancha na presidência de Donald Trump que, mesmo somando indecências atrás de indecências, vai fa

Normalização do fascismo

O PSD Açores, e naturalmente com a aprovação de Rui Rio, achou por bem coligar-se com o "Chega". Outros partidos como o Iniciativa Liberal (IL) e o CDS fizeram as mesmas escolhas, ainda que o primeiro corra atrás do prejuízo, sobretudo agora que a pandemia teve o condão de mostrar a importância do Estado Social que o IL tão avidamente pretende desmantelar, e o segundo se tenha transformado numa absoluta irrelevância. Porém, é Rui Rio, o mesmo que tem cultivado aquela imagem de moderado, que considera que o "Chega" nos Açores é diferente do "Chega" nacional. Rui Rio, o moderado, considera mesmo que algumas medidas do "Chega" como a estafada redução do Rendimento Social de Inserção é um excelente medida. Alheio às características singulares da região, Rui Rio pensa que com a ajuda do "Chega" vai tirar empregos da cartola para combater a subsidiodependência de que tanto fala, justificando deste modo a normalização que está a fazer de um pa

Outras verdades

 Ontem realizou-se o pior debate da história das presidenciais americanas. Trump, boçal, mentiroso, arrogante e malcriado, versus Biden que, apesar de ter garantido tudo fazer  para não cair na esparrela do seu adversário, acabou mesmo por cair, apelidando-o de mentiroso e palhaço.  Importa reconhecer a incomensurável dificuldade que qualquer ser humano sentiria se tivesse que debater com uma criança sem qualquer educação. Biden não foi excepção. Trump procurou impingir todo o género de mentiras, que aos ouvidos dos seus apoiante soam a outras verdades, verdades superiores à própria verdade. Trump mentiu profusamente, até sobre os seus pretensos apoios. O sheriff de Portland, por exemplo, já veio desmentir que alguma vez tivesse expressado apoio ao ainda Presidente americano. Diz-se por aí que Trump arrastou Biden para a lama. Eu tenho uma leitura diferente: Trump tem vindo a arrastar os EUA para lama. Os EUA, nestes árduos anos, tem vindo a perder influência e reputação e Trump é o ma