O relatório da Sedes (Associação para o Desenvolvimento Económico e Social) veio constatar o óbvio: existe na sociedade portuguesa um “mal-estar profundo e difuso” e que pode degenerar numa crise social de consequências imprevisíveis. Ora, já há muito que os cidadãos se aperceberam do descontentamento que grassa no país, e já o perceberam porque vivem diariamente dificuldades que lhes impossibilita viverem outros estados de alma.
O Presidente da República fala novamente de trabalho como sendo a panaceia para todos os problemas. Mas a verdade é que são os portugueses que trabalham que tem vindo a suportar os custos da crise que insiste em não abandonar o país, e são os portugueses que trabalham que não vêem os seus salários crescerem, e em sentido inverso, assistem a um incomportável aumento do custo de vida num país cuja carga fiscal é onerosa, num contexto de endividamento de empresas e famílias. Não havendo panaceias, o trabalho dos portugueses está muito longe de ser a grande solução. O país tem problemas de fundo, e enquanto os mesmos não forem resolvidos, não se vão sentir melhorias significativas.
Note-se que a melhoria das condições de vida dos cidadãos não pode ser dissociada da eficácia económica – e neste particular, o país falha. A economia portuguesa, que aparenta dar ténues sinais de recuperação, não é competitiva. É possível assinalar uma panóplia de razões que explicam a pouca competitividade da economia: desde aspectos que têm a ver com a formação inadequada dos recursos humanos, mas também de empresários que têm implicações nos baixos níveis de produtividade, uma carga fiscal pesada, o endividamento de famílias e agentes económicos, a pouca cultura de empreendedorismo, uma justiça que não responde às necessidades, e, sublinhe-se, um aparelho do Estado que necessita de uma urgente modernização. O Governo tem sobre muitos destes aspectos (in)competência, mas os resultados estão à vista e não andam longe da nulidade.
A par de uma eficácia económica é crucial que se salvaguarde o bem-estar social dos cidadãos. E nessa matéria, Portugal regrediu estonteantemente na última década. A título de exemplo, a qualidade dos serviços de Saúde, não obstante a elevada carga fiscal que recai sobre os cidadãos, é débil; mas noutras áreas de serviço público os exemplos não abundam. A propósito disso mesmo, o relatório da Sedes, faz referência ao excesso de zelo de algumas entidades fiscalizadoras – referindo-se e muito bem à ASAE – quando a criminalidade violente recrudesce. Um país que dá uma importância excessiva e a raiar, amiúde, a saloiice, a bolas de Berlim, sendo displicente com o crime violento, é seguramente um país cujas prioridades estão invertidas, fruto da inépcia de quem nos governa.
E chegamos, assim, ao ónus da questão: a degradação que atinge a classe política. De facto, nada será solucionado com políticos de baixa categoria, que estão preocupados exclusivamente com as bases do partido a que pertencem e, naturalmente, com as clientelas que os alimentam. Neste processo, os cidadãos e o seu merecido bem-estar, são relegados para o plano do dispensável. É sobejamente difícil para um país superar as suas dificuldades se as lideranças forem tão anódinas, senão mesmo incompetentes. O Presidente da República erra o alvo quando reitera a tese do trabalho – fartas de trabalhar, e em muitos casos, em condições pouco dignas, em contextos de inaceitável precariedade, estão as pessoas; ainda para mais, não se sentem respeitadas pela classe política, nem tão-pouco vislumbram um futuro auspicioso.
Há que sublinhar também a inexistência de uma cultura de responsabilidade que começa nos bancos da escola – e que é a menina dos olhos do actual primeiro-ministro – e que culmina numa classe política que nunca prestou contas aos cidadãos. É claro que se perfilha a tese segundo a qual as pessoas não se devem resignar, mas com a toda a honestidade, parece-me óbvio que é impensável exigir-se mais dos cidadãos. As pessoas resignam-se, sentem-se revoltadas, em larga medida porque a classe política é egocêntrica, é incompetente e não dá respostas.
Em suma, as desigualdades crescem assustadoramente, a impunidade e a promiscuidade não sofrem qualquer esmorecimento e os problemas estruturais do país não são resolvidos – é com este pano de fundo que cresce a revolta, o sentimento de injustiça, e uma sensação de que há-de ser sempre assim; aliás, quando no horizonte político apenas se vê o actual primeiro-ministro e o inefável líder do PSD, o desânimo é completo. A Sedes vem dar conta de uma realidade que foge completamente ao discernimento do primeiro-ministro, como ele bem demonstrou na entrevista que deu à SIC.
O Presidente da República fala novamente de trabalho como sendo a panaceia para todos os problemas. Mas a verdade é que são os portugueses que trabalham que tem vindo a suportar os custos da crise que insiste em não abandonar o país, e são os portugueses que trabalham que não vêem os seus salários crescerem, e em sentido inverso, assistem a um incomportável aumento do custo de vida num país cuja carga fiscal é onerosa, num contexto de endividamento de empresas e famílias. Não havendo panaceias, o trabalho dos portugueses está muito longe de ser a grande solução. O país tem problemas de fundo, e enquanto os mesmos não forem resolvidos, não se vão sentir melhorias significativas.
Note-se que a melhoria das condições de vida dos cidadãos não pode ser dissociada da eficácia económica – e neste particular, o país falha. A economia portuguesa, que aparenta dar ténues sinais de recuperação, não é competitiva. É possível assinalar uma panóplia de razões que explicam a pouca competitividade da economia: desde aspectos que têm a ver com a formação inadequada dos recursos humanos, mas também de empresários que têm implicações nos baixos níveis de produtividade, uma carga fiscal pesada, o endividamento de famílias e agentes económicos, a pouca cultura de empreendedorismo, uma justiça que não responde às necessidades, e, sublinhe-se, um aparelho do Estado que necessita de uma urgente modernização. O Governo tem sobre muitos destes aspectos (in)competência, mas os resultados estão à vista e não andam longe da nulidade.
A par de uma eficácia económica é crucial que se salvaguarde o bem-estar social dos cidadãos. E nessa matéria, Portugal regrediu estonteantemente na última década. A título de exemplo, a qualidade dos serviços de Saúde, não obstante a elevada carga fiscal que recai sobre os cidadãos, é débil; mas noutras áreas de serviço público os exemplos não abundam. A propósito disso mesmo, o relatório da Sedes, faz referência ao excesso de zelo de algumas entidades fiscalizadoras – referindo-se e muito bem à ASAE – quando a criminalidade violente recrudesce. Um país que dá uma importância excessiva e a raiar, amiúde, a saloiice, a bolas de Berlim, sendo displicente com o crime violento, é seguramente um país cujas prioridades estão invertidas, fruto da inépcia de quem nos governa.
E chegamos, assim, ao ónus da questão: a degradação que atinge a classe política. De facto, nada será solucionado com políticos de baixa categoria, que estão preocupados exclusivamente com as bases do partido a que pertencem e, naturalmente, com as clientelas que os alimentam. Neste processo, os cidadãos e o seu merecido bem-estar, são relegados para o plano do dispensável. É sobejamente difícil para um país superar as suas dificuldades se as lideranças forem tão anódinas, senão mesmo incompetentes. O Presidente da República erra o alvo quando reitera a tese do trabalho – fartas de trabalhar, e em muitos casos, em condições pouco dignas, em contextos de inaceitável precariedade, estão as pessoas; ainda para mais, não se sentem respeitadas pela classe política, nem tão-pouco vislumbram um futuro auspicioso.
Há que sublinhar também a inexistência de uma cultura de responsabilidade que começa nos bancos da escola – e que é a menina dos olhos do actual primeiro-ministro – e que culmina numa classe política que nunca prestou contas aos cidadãos. É claro que se perfilha a tese segundo a qual as pessoas não se devem resignar, mas com a toda a honestidade, parece-me óbvio que é impensável exigir-se mais dos cidadãos. As pessoas resignam-se, sentem-se revoltadas, em larga medida porque a classe política é egocêntrica, é incompetente e não dá respostas.
Em suma, as desigualdades crescem assustadoramente, a impunidade e a promiscuidade não sofrem qualquer esmorecimento e os problemas estruturais do país não são resolvidos – é com este pano de fundo que cresce a revolta, o sentimento de injustiça, e uma sensação de que há-de ser sempre assim; aliás, quando no horizonte político apenas se vê o actual primeiro-ministro e o inefável líder do PSD, o desânimo é completo. A Sedes vem dar conta de uma realidade que foge completamente ao discernimento do primeiro-ministro, como ele bem demonstrou na entrevista que deu à SIC.
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