Avançar para o conteúdo principal

O essencial fica por fazer

O Governo virou a página das reformas, e passou para o capítulo dos subsídios acompanhados pela indispensável propaganda. Assim, fica o essencial por fazer, adiando-se o futuro do país, e condenando os portugueses à eterna condição de remediados, quando não mesmo de pobres.
O Governo pode ter a pretensão de ter sido reformista, mas essa pretensão cai em saco roto quando se avalia a questão com maior minúcia. Com efeito, o Executivo de José Sócrates foi bem sucedido no que toca à sustentabilidade em matéria de segurança social, as reformas do Governo neste particular permitem olhar para o problema da sustentabilidade com outros olhos. Nem podemos subtrair ao actual Executivo o sucesso da redução do défice, embora os números mágicos só tenham sido conseguidos com recurso a um aumento exponencial da receita, ou dito de outro modo, com recurso a um aumento de impostos.
Mas a verdade é que muito ficou por fazer. Isto é tanto mais verdade quando se verifica o anúncio recorrente de políticas sociais e o claro abrandamento, senão mesmo extinção, do ímpeto reformista.
Note-se que a reforma da Administração Pública ficou por fazer, a menos que se considere que a incipiente política de mobilidade de funcionários públicos e a simplificação de alguns processos constitua uma reforma. Sem esta reforma – basilar para o desenvolvimento do país – está-se apenas a adiar o inadiável e a comprometer resultados futuros. O Estado não pode continuar a consumir recursos que poderão ter aplicações que permitam o desenvolvimento do país, designadamente ao nível do investimento; da mesma forma, a elevada carga fiscal é um claro óbice ao investimento e cerceia o poder de compra das famílias. Está na altura de se repensar o desenho do próprio Estado, sem prescindir de áreas como a Educação, Saúde e Justiça; mas reequacionando o seu papel e a sua excessiva preponderância.
Por outro lado, é imperativo que a economia caminhe no sentido da competitividade. Essa não é uma tarefa exclusiva do Estado, mas o que tem sido feito em matéria de educação e formação dos recursos humanos pressagia o falhanço da competitividade da economia portuguesa. Sendo certo que a competitividade não passa apenas pela formação dos recursos humanos – a mediocridade de algum tecido empresarial joga a favor dessa falta de competitividade –, essa não deixa de ser uma peça fundamental que ainda justifica, em parte, a tibieza em matéria de competitividade. Sublinhe-se novamente a necessidade do Estado libertar recursos que podem aumentar a competitividade das empresas.
E, finalmente, a cereja em cima do “bolo” do fracasso da actual legislatura: a justiça. Sem um bom funcionamento da justiça, o investimento não sentirá atraído pela nossa economia. E sem investimento, não há criação de emprego, nem se poderá, obviamente, combater a elevada taxa de desemprego.
Enfim, o essencial está por fazer, mas o mais grave é que não será feito pelo menos até 2009. Até lá, e provavelmente muito depois, continuaremos a ser pobres, pelo menos quando nos comparamos com outros Estados-membros da União Europeia. O que o Governo vai fazer no próximo ano e meio é colocar remendos onde surgem buracos, sem ter a noção de que esses remendos estão longe de ser a solução para os problemas, que sem verdadeiras reformas, os buracos vão pulular. Com uma estratégia desta natureza – a estratégia dos remendos – não admira que nos sintamos cada vez mais pobres.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Mais uma indecência a somar-se a tantas outras

 O New York Times revelou (parte) o que Donald Trump havia escondido: o seu registo fiscal. E as revelações apenas surpreendem pelas quantias irrisórias de impostos que Trump pagou e os anos, longos anos, em que não pagou um dólar que fosse. Recorde-se que todos os presidentes americanos haviam revelado as suas declarações, apenas Trump tudo fizera para as manter sem segredo. Agora percebe-se porquê. Em 2016, ano da sua eleição, o ainda Presidente americano pagou 750 dólares em impostos, depois de declarar um manancial de prejuízos, estratégia adoptada nos tais dez anos, em quinze, em que nem sequer pagou impostos.  Ora, o homem que sempre se vangloriou do seu sucesso como empresário das duas, uma: ou não teve qualquer espécie de sucesso, apesar do estilo de vida luxuoso; ou simplesmente esta foi mais uma mentira indecente, ou um conjunto de mentiras indecentes. Seja como for, cai mais uma mancha na presidência de Donald Trump que, mesmo somando indecências atrás de indecências, vai fa

Normalização do fascismo

O PSD Açores, e naturalmente com a aprovação de Rui Rio, achou por bem coligar-se com o "Chega". Outros partidos como o Iniciativa Liberal (IL) e o CDS fizeram as mesmas escolhas, ainda que o primeiro corra atrás do prejuízo, sobretudo agora que a pandemia teve o condão de mostrar a importância do Estado Social que o IL tão avidamente pretende desmantelar, e o segundo se tenha transformado numa absoluta irrelevância. Porém, é Rui Rio, o mesmo que tem cultivado aquela imagem de moderado, que considera que o "Chega" nos Açores é diferente do "Chega" nacional. Rui Rio, o moderado, considera mesmo que algumas medidas do "Chega" como a estafada redução do Rendimento Social de Inserção é um excelente medida. Alheio às características singulares da região, Rui Rio pensa que com a ajuda do "Chega" vai tirar empregos da cartola para combater a subsidiodependência de que tanto fala, justificando deste modo a normalização que está a fazer de um pa

Outras verdades

 Ontem realizou-se o pior debate da história das presidenciais americanas. Trump, boçal, mentiroso, arrogante e malcriado, versus Biden que, apesar de ter garantido tudo fazer  para não cair na esparrela do seu adversário, acabou mesmo por cair, apelidando-o de mentiroso e palhaço.  Importa reconhecer a incomensurável dificuldade que qualquer ser humano sentiria se tivesse que debater com uma criança sem qualquer educação. Biden não foi excepção. Trump procurou impingir todo o género de mentiras, que aos ouvidos dos seus apoiante soam a outras verdades, verdades superiores à própria verdade. Trump mentiu profusamente, até sobre os seus pretensos apoios. O sheriff de Portland, por exemplo, já veio desmentir que alguma vez tivesse expressado apoio ao ainda Presidente americano. Diz-se por aí que Trump arrastou Biden para a lama. Eu tenho uma leitura diferente: Trump tem vindo a arrastar os EUA para lama. Os EUA, nestes árduos anos, tem vindo a perder influência e reputação e Trump é o ma