Avançar para o conteúdo principal

A descrença na classe política


Hoje vivemos um momento de evidente pobreza do cenário político português, sobretudo dos principais intervenientes políticos. Todo o espectro político deixa dúvidas à generalidade dos cidadãos, e muitos não têm qualquer tipo de esperança de ver estes políticos mudarem o país. A descrença na política e nos políticos alastra-se e agrava-se de dia para dia. Essa descrença mina a qualidade da democracia, mas diga-se em abono da verdade que a classe política tem perdido a pouca credibilidade que tinha, o que justifica e explica um afastamento entre cidadãos e políticos.
De um modo geral, são muitas as críticas ao Governo, que recrudesceram nas últimas semanas. É notório o nervosismo que atravessa o líder do PS, e primeiro-ministro de Portugal, mas que também contaminou o resto da militância do PS, incluindo algumas figuras respeitadas no seio do PS. As declarações de António Costa a uma rádio, só podem ser justificadas por esse nervosismo – causado por uma conjuntura, que inclui o descontentamento de muitos cidadãos relativamente a este Governo, inclui também a exasperante ausência de oposição e, claro está, inclui também a presença, por vezes incómoda de Manuel Alegre. António Costa, com as suas teorias bacocas da conspiração, fez uma figura infeliz de si próprio, e prestou um mau serviço à política e ao país. As notícias que dão conta das inconstâncias do passado profissional do “chefe” só agravam, como as declarações de António Costa o demonstraram, o nervosismo do PS.
O PS afunda-se na sua própria insignificância e a sua militância não faz mais do que cantar louvores ao chefe. Ora, assim, não se pode estar à espera de uma aproximação dos cidadãos a um partido com estas características.
O PSD, simplesmente não existe. Ou melhor, quando dá sinais de vida, ansiamos avidamente pela sua morte. A liderança bicéfala, ou acéfala, não funciona e tem consequências trágicas para um equilíbrio sempre desejável na política. E o que mais inquieta é não se assistir a movimentos, dentro do partido, para que se encontre um novo rumo para o partido – ou talvez esses movimentos existam, mas ainda não sejam muito visíveis.
Os restantes partidos, Bloco de Esquerda, PCP, e CDS-PP têm uma existência anódina e são poucos os que os levam a sério. O CDS ainda tem conseguido perder mais credibilidade do que aquela que já tinha.
No essencial, é este o cenário político no nosso país. Deste modo, é difícil voltar a acreditar na classe política, e até no futuro do país. Enquanto assistimos à degradação paulatina de uma parte significativa da classe política, o país e os portugueses continuam à espera que o país mude e enverede pelo caminho da modernização. Com políticos desta estirpe, porém, essa modernização não é mais do que uma fugaz miragem.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Normalização do fascismo

O PSD Açores, e naturalmente com a aprovação de Rui Rio, achou por bem coligar-se com o "Chega". Outros partidos como o Iniciativa Liberal (IL) e o CDS fizeram as mesmas escolhas, ainda que o primeiro corra atrás do prejuízo, sobretudo agora que a pandemia teve o condão de mostrar a importância do Estado Social que o IL tão avidamente pretende desmantelar, e o segundo se tenha transformado numa absoluta irrelevância. Porém, é Rui Rio, o mesmo que tem cultivado aquela imagem de moderado, que considera que o "Chega" nos Açores é diferente do "Chega" nacional. Rui Rio, o moderado, considera mesmo que algumas medidas do "Chega" como a estafada redução do Rendimento Social de Inserção é um excelente medida. Alheio às características singulares da região, Rui Rio pensa que com a ajuda do "Chega" vai tirar empregos da cartola para combater a subsidiodependência de que tanto fala, justificando deste modo a normalização que está a fazer de um pa...

Outras verdades

 Ontem realizou-se o pior debate da história das presidenciais americanas. Trump, boçal, mentiroso, arrogante e malcriado, versus Biden que, apesar de ter garantido tudo fazer  para não cair na esparrela do seu adversário, acabou mesmo por cair, apelidando-o de mentiroso e palhaço.  Importa reconhecer a incomensurável dificuldade que qualquer ser humano sentiria se tivesse que debater com uma criança sem qualquer educação. Biden não foi excepção. Trump procurou impingir todo o género de mentiras, que aos ouvidos dos seus apoiante soam a outras verdades, verdades superiores à própria verdade. Trump mentiu profusamente, até sobre os seus pretensos apoios. O sheriff de Portland, por exemplo, já veio desmentir que alguma vez tivesse expressado apoio ao ainda Presidente americano. Diz-se por aí que Trump arrastou Biden para a lama. Eu tenho uma leitura diferente: Trump tem vindo a arrastar os EUA para lama. Os EUA, nestes árduos anos, tem vindo a perder influência e reputação ...

Saídas para os impasses

As últimas semanas têm sido pródigas na divulgação de escândalos envolvendo o primeiro-ministro e as suas obrigações com a Segurança Social e com o Fisco. Percebe-se que os princípios éticos associados ao desempenho de funções políticas são absolutamente ignorados por quem está à frente dos destinos do país - não esquecer que o primeiro-ministro já havia sido deputado antes de se esquecer de pagar as contribuições à Segurança Social. A demissão está fora de questão até porque o afastamento do cargo implica, por parte do próprio, um conjunto de princípios que pessoas como Passos Coelho simplesmente não possuem. A oposição, a poucos meses de eleições, parece preferir que o primeiro-ministro coza em lume brando. E com tanta trapalhada insistimos em não discutir possíveis caminhos e saídas para os impasses com que o país se depara. Governo e oposição (sobretudo o Partido Socialista) agem como se não tivessem de possuir um único pensamento político. Assim, continuamos sem saber o que...