Avançar para o conteúdo principal

Qual o futuro do Sistema Nacional de Saúde?

A pergunta em epígrafe é absolutamente legítima, tendo em conta os últimos desenvolvimentos na área da Saúde. Os encerramentos de urgências hospitalares, serviços de atendimento nocturno e outros serviços de saúde levam-nos a questionar sobre o futuro do Serviço Nacional de Saúde (SNS). Além do mais, o facto de pulularem serviços hospitalares de índole privada lança novas e legítimas suspeitas sobre o futuro do SNS. Dir-se-á que a coexistência entre público e privado é perfeitamente normal, mas causa alguma inquietação verificar que no lugar de serviços públicos extintos, surgem agora outros serviços para colmatarem as necessidades das populações, mas de natureza privada.
É comummente aceite que o ministro da Saúde tem dificuldade em explicar aos cidadãos a pertinência de tantos encerramentos, mas talvez essa dificuldade seja consequência de uma necessidade do Governo de não contar a história toda. Por outro lado, a justificação para tantos encerramentos parece prender-se com a melhoria dos serviços – em vez de serviços dispersos, opta-se pela concentração. Todavia, a verdade é que se desinvestido e pouco mais do que isso; encerra-se, em nome da melhoria do serviço aos utentes, mas ainda se está longe de suprimir as dificuldades criadas por esses encerramentos.
Em nome da verdade, seria profícuo que o Governo e o ministro da Saúde dissessem aos portugueses o que é que pretendem fazer com o SNS. São sobejamente conhecidas as dificuldades orçamentais do sector da Saúde, e os falhanços em matéria de gestão. De qualquer modo, exige-se honestidade de quem nos governa, exige-se que se diga o que pretendem fazer com este sector vital para o bem-estar das populações.
De duas uma: ou se pretende acabar paulatinamente com o SNS, encerrando e dando primazia ao sector privado para substituir o público; e se for esse o caso, perguntar-se-á qual a necessidade de se continuar a pagar a torrente de impostos que depois são canalizados para serviços públicos como é o caso da Saúde; ou por outro lado, tenciona-se manter o SNS, melhorando os serviços – recorrendo à contenção de custos, mas sem prejudicar sobremaneira as populações.
Enfim, presume-se que o Governo tem como objectivo a salvaguarda do SNS, procurando alguma parcimónia orçamental e simultaneamente melhorar os serviços. Mas olhando para casos concretos, como a sobrelotação das urgências do Hospital de Faro, e de muitos outros hospitais do país, verificando que se encerra a maternidade em Chaves para dar lugar a um hospital privado dotado desses mesmos serviços, ou quando se assiste à angústia de populações que perderam os serviços médicos relativamente próximos de si, acentuando desta forma o isolamento de muitas populações do interior, a pergunta é legítima: qual o futuro do Sistema Nacional de Saúde? Nem se ousa abordar aqui a questão da qualidade do SNS (havendo honrosas mas poucas excepções) porque para essa abordagem seria necessário um blogue inteiro só para se discutir a questão da qualidade dos serviços prestados.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Saídas para os impasses

As últimas semanas têm sido pródigas na divulgação de escândalos envolvendo o primeiro-ministro e as suas obrigações com a Segurança Social e com o Fisco. Percebe-se que os princípios éticos associados ao desempenho de funções políticas são absolutamente ignorados por quem está à frente dos destinos do país - não esquecer que o primeiro-ministro já havia sido deputado antes de se esquecer de pagar as contribuições à Segurança Social. A demissão está fora de questão até porque o afastamento do cargo implica, por parte do próprio, um conjunto de princípios que pessoas como Passos Coelho simplesmente não possuem. A oposição, a poucos meses de eleições, parece preferir que o primeiro-ministro coza em lume brando. E com tanta trapalhada insistimos em não discutir possíveis caminhos e saídas para os impasses com que o país se depara. Governo e oposição (sobretudo o Partido Socialista) agem como se não tivessem de possuir um único pensamento político. Assim, continuamos sem saber o que...

Fim do sigilo bancário

Tudo indica que o sigilo bancário vai ter um fim. O Partido Socialista e o Bloco de Esquerda chegaram a um entendimento sobre a matéria em causa - o Bloco de Esquerda faz a proposta e o PS dá a sua aprovação para o levantamento do sigilo bancário. A iniciativa é louvável e coaduna-se com aquilo que o Bloco de Esquerda tem vindo a propor com o objectivo de se agilizar os mecanismos para um combate eficaz ao crime económico e ao crime de evasão fiscal. Este entendimento entre o Bloco de Esquerda e o Partido Socialista também serve na perfeição os intentos do partido do Governo. Assim, o PS mostra a sua determinação no combate à corrupção e ao crime económico e, por outro lado, aproxima-se novamente do Bloco de Esquerda. Com efeito, a medida, apesar de ser tardia, é amplamente aplaudida e é vista como um passo certo no combate à corrupção, em particular quando a actualidade é fortemente marcada por suspeições e por casos de corrupção. De igual forma, as perspectivas do PS conseguir uma ma...

Outras verdades

 Ontem realizou-se o pior debate da história das presidenciais americanas. Trump, boçal, mentiroso, arrogante e malcriado, versus Biden que, apesar de ter garantido tudo fazer  para não cair na esparrela do seu adversário, acabou mesmo por cair, apelidando-o de mentiroso e palhaço.  Importa reconhecer a incomensurável dificuldade que qualquer ser humano sentiria se tivesse que debater com uma criança sem qualquer educação. Biden não foi excepção. Trump procurou impingir todo o género de mentiras, que aos ouvidos dos seus apoiante soam a outras verdades, verdades superiores à própria verdade. Trump mentiu profusamente, até sobre os seus pretensos apoios. O sheriff de Portland, por exemplo, já veio desmentir que alguma vez tivesse expressado apoio ao ainda Presidente americano. Diz-se por aí que Trump arrastou Biden para a lama. Eu tenho uma leitura diferente: Trump tem vindo a arrastar os EUA para lama. Os EUA, nestes árduos anos, tem vindo a perder influência e reputação ...