Avançar para o conteúdo principal

O definhar dos partidos políticos


Parece haver um consenso quanto ao definhar dos partidos políticos, designadamente em relação aos os dois grandes partidos: PS e PSD. Em concreto o que se verifica é uma frugalidade de ideais que é perfeitamente exasperante e indiciadora da ausência de rumo dos dois principais políticos e a subsequente degradação da qualidade da própria democracia portuguesa.
Analisando caso a caso, verifica-se que o PS é um partido encerrado em si mesmo, ou melhor, encerrado nos ditames de uma liderança pouco adepta do diálogo e da troca de ideais. O PS limita-se a seguir as instruções do líder. Não há oposição interna – exceptuando a presença sempre activa do deputado Manuel Alegre –, e o partido parece sentir-se bem com todas as más decisões do Governo e com as suas inefáveis incongruências. O PS é um partido vazio, um partido de pacotilha, uma quase nulidade política que só dá sinais de vida quando vem corroborar caninamente os ditames governamentais, ou quando, esporadicamente, o deputado Manuel Alegre insurge-se contra as políticas insidiosas do Governo e contra o marasmo que tomou conta do PS.
O estado deplorável do PS não é único, isto porque o PSD não se apresenta num estado de excelência ou coisa que o valha. A nova liderança do PSD, encabeçada por Luís Filipe Menezes e, segundo muitas análises, por Santana Lopes ainda é recente, mas já tem demonstrado inconstâncias. Da mesma forma, o vazio de ideias e de projectos não é um mal exclusivo do PS, o PSD não tem mostrado sequer resquícios de um projecto para o país, exceptuando o anúncio de medidas avulsas e da transformação do PSD numa espécie de empresa-partido político. Contrariamente ao PS, o PSD vive um momento de divisões internas e da ameaça reiterada, nas últimas semanas, de um “golpe de Estado” interno – o “barrosismo” incomoda a actual direcção do partido, já para não falar da existência de almoços que parece ser paralelos à direcção do partido.
Além dos problemas internos do PSD, importa referir também a insipiência da acção política do líder do partido e do líder da bancada parlamentar. A tibieza da oposição política ao Governo é mais acentuada nas diversas intervenções do PSD. Os últimos exemplos prendem-se com as intervenções de Menezes sobre a ratificação do Tratado de Lisboa e sobre a localização do aeroporto internacional de Lisboa – intervenções que denotam tergiversações e são absolutamente inconsequentes.
Em suma, a falta de qualidade que é comum a PS e a PSD vai determinar a dificuldade de escolha em 2009. E quanto mais se aproxima o ano de eleições, mais se torna evidente a pobreza da classe política, em particular nos dois principais partidos políticos. Nem tão-pouco é de estranhar que a oposição ao Governo tenha vindo a ser feita por partidos de menor dimensão: o CDS-PP e o Bloco de Esquerda têm uma intervenção política mais acentuada e reveladora de uma maior acuidade do que o PSD. O PS, já aqui se disse, é uma nulidade política, não existe politicamente.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Mais uma indecência a somar-se a tantas outras

 O New York Times revelou (parte) o que Donald Trump havia escondido: o seu registo fiscal. E as revelações apenas surpreendem pelas quantias irrisórias de impostos que Trump pagou e os anos, longos anos, em que não pagou um dólar que fosse. Recorde-se que todos os presidentes americanos haviam revelado as suas declarações, apenas Trump tudo fizera para as manter sem segredo. Agora percebe-se porquê. Em 2016, ano da sua eleição, o ainda Presidente americano pagou 750 dólares em impostos, depois de declarar um manancial de prejuízos, estratégia adoptada nos tais dez anos, em quinze, em que nem sequer pagou impostos.  Ora, o homem que sempre se vangloriou do seu sucesso como empresário das duas, uma: ou não teve qualquer espécie de sucesso, apesar do estilo de vida luxuoso; ou simplesmente esta foi mais uma mentira indecente, ou um conjunto de mentiras indecentes. Seja como for, cai mais uma mancha na presidência de Donald Trump que, mesmo somando indecências atrás de indecências, vai fa

Normalização do fascismo

O PSD Açores, e naturalmente com a aprovação de Rui Rio, achou por bem coligar-se com o "Chega". Outros partidos como o Iniciativa Liberal (IL) e o CDS fizeram as mesmas escolhas, ainda que o primeiro corra atrás do prejuízo, sobretudo agora que a pandemia teve o condão de mostrar a importância do Estado Social que o IL tão avidamente pretende desmantelar, e o segundo se tenha transformado numa absoluta irrelevância. Porém, é Rui Rio, o mesmo que tem cultivado aquela imagem de moderado, que considera que o "Chega" nos Açores é diferente do "Chega" nacional. Rui Rio, o moderado, considera mesmo que algumas medidas do "Chega" como a estafada redução do Rendimento Social de Inserção é um excelente medida. Alheio às características singulares da região, Rui Rio pensa que com a ajuda do "Chega" vai tirar empregos da cartola para combater a subsidiodependência de que tanto fala, justificando deste modo a normalização que está a fazer de um pa

Outras verdades

 Ontem realizou-se o pior debate da história das presidenciais americanas. Trump, boçal, mentiroso, arrogante e malcriado, versus Biden que, apesar de ter garantido tudo fazer  para não cair na esparrela do seu adversário, acabou mesmo por cair, apelidando-o de mentiroso e palhaço.  Importa reconhecer a incomensurável dificuldade que qualquer ser humano sentiria se tivesse que debater com uma criança sem qualquer educação. Biden não foi excepção. Trump procurou impingir todo o género de mentiras, que aos ouvidos dos seus apoiante soam a outras verdades, verdades superiores à própria verdade. Trump mentiu profusamente, até sobre os seus pretensos apoios. O sheriff de Portland, por exemplo, já veio desmentir que alguma vez tivesse expressado apoio ao ainda Presidente americano. Diz-se por aí que Trump arrastou Biden para a lama. Eu tenho uma leitura diferente: Trump tem vindo a arrastar os EUA para lama. Os EUA, nestes árduos anos, tem vindo a perder influência e reputação e Trump é o ma