
Já aqui se discutiu a crise que assola o Paquistão, depois do general Pervez Musharraf ter decidido impor um estado de emergência. Esta crise também é sintomática da falta do afastamento do Paquistão em relação aos princípios democráticos. Aliás, não terá sido por mero acaso que o presidente paquistanês tem afastado premeditadamente os líderes da oposição ou que colocou juízes em prisão domiciliária. A isto acrescente-se a inexistência de liberdade de imprensa e não se augura que o Paquistão retome o caminho da democracia.
O presidente do Paquistão instaurou o estado de emergência em nome de uma suposta segurança do Estado paquistanês. O que está em causa, segundo Musharraf, é um incremento da insegurança do país resultado do islamismo radical e da ameaça talibã no vizinho Afeganistão. Nem por isso deixa de ser verdade que o islamismo radical existe contundentemente no país, nem que a ameaça talibã seja uma realidade; mas também parece ser ponto assente que as medidas levadas a cabo por Musharraf têm dois efeitos: o primeiro é o de contribuir para a radicalização com expoente máximo nos grupos radicais, e o segundo é o de destruir indelevelmente a possibilidade do Paquistão enveredar por um caminho democrático.
Os EUA têm exercido forte pressão no sentido de instar o presidente paquistanês a levantar o estado de emergência e retomar o caminho da estabilidade; esses esforços, contudo, parece terem caído em saco roto, na medida em que, apesar de Musharraf já ter afirmado que as eleições terão lugar no próximo ano, o general presidente mantém-se intransigente no que diz respeito a um possível levantamento do estado de emergência.
A instabilidade que se vive no Paquistão é mais uma centelha que pode incendiar de forma irredutível um mundo cada vez mais longe de qualquer segurança. Ora, no vizinho Afeganistão verifica-se que os esforços militares americanos e dos aliados têm sido incapazes de expurgar a ameaça talibã, a instabilidade no Iraque, o eterno conflito israelo-palestiniano e a ameaça da Turquia de invadir o norte do Iraque são exemplos claros de que vivemos num mundo cada vez mais incerto e mais longe daquilo que nós consideramos democracia. Musharraf acabou de dar, nestas ultimas semanas, uma machada na esperança que o mundo tem na democratização deste país.
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