
A chanceler alemã Angela Merkel recebeu, a título privado, o Dalai Lama. Não obstante o carácter privado do encontro entre o líder espiritual tibetano e a chanceler alemã, a verdade é que os mais altos responsáveis governativos alemães não votaram o Dalai Lama ao mais cobarde desprezo, como o que aconteceu em Portugal. Sublinhe-se ainda que a China, como medida de represália, decidiu cancelar uma reunião ministerial em Munique. Quando as autoridades chinesas tiveram conhecimento desse encontro entre a chanceler e o líder tibetano manifestaram o seu desagrado. Consequentemente, é possível inferir que a Alemanha tem no seu seio líderes cuja qualidade difere muito dos (actuais) líderes portugueses . O que não é difícil. E é, de facto, desta forma que se verifica que a política externa alemã não é de subserviência.
Dir-se-á, no entanto, que Portugal não é a Alemanha. É verdade e subscreve-se a constatação dessa realidade. O que não invalida a vergonha que foi a política de cócoras levada a cabo pelo Governo e Presidente da República. Não vale a pena refugiarmo-nos permanentemente na nossa insignificância para justificar todas as incongruências da nossa política externa. Somos pequenos, mas num lugar de elevação – Portugal preside à União Europeia, o que representa uma oportunidade de ouro para mostrar a importância do nosso país. Ao invés prefere-se adoptar uma postura de clara subserviência e cobardia. O caso da visita do Dalai Lama foi só mais um exemplo.
Vem aí a Cimeira UE-África, e a postura de Portugal não vai andar longe da hipocrisia do costume mascarada de real politik. A prevalência dos interesses económicos sobre os valores e os princípios é uma constante que marca negativamente a política externa portuguesa.
Com efeito, o pragmatismo (hoje uma virtude incontestável) da política externa portuguesa é um facto incontornável – na já referida cimeira UE-África a presença de Robert Mugabe parece inevitável. Isto embora o primeiro-ministro britânico já tenha anunciado que não vai estar presente na dita cimeira. Robert Mugabe é um daqueles ditadores africanos que tem caracterizado as lideranças africanas. Tem-se dito, porém, que existem diferenças entre Mugabe e outros ditadores africanos, os resultados são, em contrapartida, invariavelmente os mesmos: corrupção, colapso económico, assassinatos, violência, etc. Essa violência recaiu sobre a comunidade branca no Zimbabué, o que levou a que União Europeia tomasse medidas. As sanções económicas e a condenação do ditador são os exemplos mais significativos. É neste contexto que os interesses em torno de África parece estarem acima de qualquer coisa.
A questão dos Direitos Humanos já tinha sido ignorada durante a visita do Dalai Lama. E agora na tal cimeira, será que os Direitos Humanos vão ficar, uma vez mais, à porta das negociações? Refira-se mais uma vez que esta política externa de cócoras adoptada pelo Governo português envergonha o país. A dimensão de um país não é sinónimo de pequenez de espírito, hipocrisia, subserviência e cobardia.
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