Avançar para o conteúdo principal

Eminência de um Irão nuclear


A possibilidade – real – de que o Irão consiga desenvolver tecnologia nuclear não pode ser equacionada de forma despicienda pela comunidade internacional. Nem tão-pouco se pode encarar a teimosia iraniana no habitual contexto da diplomacia que resvala inevitavelmente para uma tolerância exacerbada. O Irão, por sua vez, insiste no desenvolvimento de tecnologia nuclear, e reitera veementemente a sua intenção de utilizar essa mesma energia nuclear para fins energéticos. Paralelamente, o Irão reclama o seu direito a possuir este tipo de tecnologia e não abdica daquilo que considera um direito seu.

Na verdade, a linha de argumentação adoptada pelos responsáveis iranianos vem acompanhada por um discurso anti-semita e de constante confrontação relativamente ao Estado Israelita. As intervenções do presidente iraniano sobre Israel são sobejamente conhecidas – ninguém se esquecerá da abjecta frase que indiciava a vontade do Irão de riscar Israel do mapa. É neste quadro que a possibilidade de um Irão com capacidade nuclear nunca será aceite pelo Estado Israelita.

Refira-se ainda o desequilíbrio que o Irão nuclear causaria numa região caracterizada indelevelmente pela instabilidade. O Irão nuclear provocaria uma corrida a este tipo de armamento por parte de muitos países do Médio Oriente. Imagine-se uma região onde prevalece um permanente clima de tensão, mas com a agravante de vários países possuírem armas nucleares.

Ainda em relação a Israel, sublinhe-se a condição singular deste país: Israel luta incessantemente pela sua sobrevivência num contexto de manifesta animosidade. E é precisamente a questão da sobrevivência que levará este país, incontornavelmente, a defender-se a qualquer custo; assim, um Irão nuclear não será, em circunstância alguma, admissível pelo Estado Israelita. A possibilidade de uma intervenção militar de Israel no Irão é real. E basta olhar para a recente intervenção militar de Israel em território sírio (não reconhecida por nenhum dos países).

A comunidade internacional, em particular no que toca à UE e EUA, tem uma tarefa de crescente dificuldade. A questão das sanções como medida dissuasora e punitiva parece não ser uma solução definitiva. A possibilidade de uma intervenção militar em território Iraniano (cirúrgica) é uma hipótese aparentemente longínqua: os EUA estão atolados no Iraque, e de certa forma no Afeganistão; a UE adopta a via diplomática, embora o Ministro francês dos Negócios Estrangeiros tenha referido a forte possibilidade da guerra.

De qualquer forma, a instabilidade cresce no Médio Oriente: o conflito israelo-palestiniano parece longe de uma solução, as tensões entre Israel e Síria parecem crescer de tom, o Iraque é um país partido longe da estabilidade e o Irão luta aguerridamente pelo desenvolvimento de tecnologia nuclear. O Irão, se conseguir alcançar os seus intentos, vai provocar uma escalada de violência sem precedentes na região, com consequências óbvias no plano internacional.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Normalização do fascismo

O PSD Açores, e naturalmente com a aprovação de Rui Rio, achou por bem coligar-se com o "Chega". Outros partidos como o Iniciativa Liberal (IL) e o CDS fizeram as mesmas escolhas, ainda que o primeiro corra atrás do prejuízo, sobretudo agora que a pandemia teve o condão de mostrar a importância do Estado Social que o IL tão avidamente pretende desmantelar, e o segundo se tenha transformado numa absoluta irrelevância. Porém, é Rui Rio, o mesmo que tem cultivado aquela imagem de moderado, que considera que o "Chega" nos Açores é diferente do "Chega" nacional. Rui Rio, o moderado, considera mesmo que algumas medidas do "Chega" como a estafada redução do Rendimento Social de Inserção é um excelente medida. Alheio às características singulares da região, Rui Rio pensa que com a ajuda do "Chega" vai tirar empregos da cartola para combater a subsidiodependência de que tanto fala, justificando deste modo a normalização que está a fazer de um pa...

Outras verdades

 Ontem realizou-se o pior debate da história das presidenciais americanas. Trump, boçal, mentiroso, arrogante e malcriado, versus Biden que, apesar de ter garantido tudo fazer  para não cair na esparrela do seu adversário, acabou mesmo por cair, apelidando-o de mentiroso e palhaço.  Importa reconhecer a incomensurável dificuldade que qualquer ser humano sentiria se tivesse que debater com uma criança sem qualquer educação. Biden não foi excepção. Trump procurou impingir todo o género de mentiras, que aos ouvidos dos seus apoiante soam a outras verdades, verdades superiores à própria verdade. Trump mentiu profusamente, até sobre os seus pretensos apoios. O sheriff de Portland, por exemplo, já veio desmentir que alguma vez tivesse expressado apoio ao ainda Presidente americano. Diz-se por aí que Trump arrastou Biden para a lama. Eu tenho uma leitura diferente: Trump tem vindo a arrastar os EUA para lama. Os EUA, nestes árduos anos, tem vindo a perder influência e reputação ...

Fim do sigilo bancário

Tudo indica que o sigilo bancário vai ter um fim. O Partido Socialista e o Bloco de Esquerda chegaram a um entendimento sobre a matéria em causa - o Bloco de Esquerda faz a proposta e o PS dá a sua aprovação para o levantamento do sigilo bancário. A iniciativa é louvável e coaduna-se com aquilo que o Bloco de Esquerda tem vindo a propor com o objectivo de se agilizar os mecanismos para um combate eficaz ao crime económico e ao crime de evasão fiscal. Este entendimento entre o Bloco de Esquerda e o Partido Socialista também serve na perfeição os intentos do partido do Governo. Assim, o PS mostra a sua determinação no combate à corrupção e ao crime económico e, por outro lado, aproxima-se novamente do Bloco de Esquerda. Com efeito, a medida, apesar de ser tardia, é amplamente aplaudida e é vista como um passo certo no combate à corrupção, em particular quando a actualidade é fortemente marcada por suspeições e por casos de corrupção. De igual forma, as perspectivas do PS conseguir uma ma...