
A Birmânia (Myanmar) pode até ter sido uma ilustre desconhecida para algumas pessoas, mas agora seguramente deixou de o ser. Não obstante este país viver sob o jugo de uma ditadura militar desde 1962, o problema da Birmânia não tem o hábito de ocupar espaço nos órgãos de comunicação social de todo o mundo. Talvez o outro momento em que se falou da Birmânia tenha sido por altura das manifestações de 1988, que culminaram com perto de três mortos. Hoje volta-se a falar da Birmânia e a comunidade internacional não pode ignorar a visibilidade e importância de um país coarctado, pobre, e isolado.
Hoje a comunicação social vê-se acompanhada por fenómenos como a Internet ou o jornalismo dos cidadãos, através de telemóveis, por exemplo. O que significa um aumento do espectro de visibilidade que se pode proporcionar a um determinado assunto. Refira-se a importância de todos estes fenómenos têm na opinião pública e consequentemente a pressão que é feita à classe política dos países mais abertos e democráticos. Poucos terão ficado indiferentes ao assassinato do jornalista japonês – um acto hediondo, mas que mostra a coragem de todos aqueles que oficialmente ou na clandestinidade tentam passar informações e imagens daquilo que se passa na Birmânia.
Com efeito, a junta militar birmanesa apercebe-se do efeito que as imagens e as palavras têm na fragilização do inefável regime que governa o país. Nesse sentido, não se limita reprimir os manifestantes, mas não se coíbe também de oprimir e limitar a liberdade de imprensa. Muitos órgãos de comunicação social foram encerrados e os que ainda conseguiram sobreviver, vêem a sua linha editorial condicionada pelos ditames do regime.
Ainda assim, muitos jornalistas e cidadãos anónimos arriscam a própria vida para informar, para denunciar o regime escabroso que governa a Birmânia, para mostrar como os direitos humanos são diariamente desrespeitados. A comunidade internacional não pode deixar de se imiscuir nesta questão, nem tão-pouco deixar de fazer pressão para que a China (que apoia um regime que serve os seus intentos) pressione o regime no sentido de refrear a repressão.
A notícia de que o enviado especial da ONU se vai encontrar com a prémio Nobel da Paz Aung San Suu Kyi representa uma clara cedência do regime e uma excelente notícia que pode pressagiar melhores dias para o povo birmanês. É indubitável que a pressão internacional obteve resultados – o regime cedeu em alguns aspectos. Porém, nada disso seria possível sem todos aqueles que contribuem para informar o mundo sobre o que se passa na Birmânia, sejam eles jornalistas, cidadãos, estejam eles na Birmânia ou no estrangeiro. O seu trabalho foi determinante. O fotógrafo japonês que foi hediondamente assassinado e todos aqueles que continuam a arriscar as suas vidas dão um forte contributo para a visibilidade e importância que é hoje concedida à Birmânia.
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