
É um facto que a crise financeira, com origem no mercado de subprime nos EUA, está longe de ser sanada, e tudo indica que o impacto desta crise nas economias reais será significativo. Naturalmente que a crise financeira começa por ter mais impacto nos EUA, mas a inevitabilidade desta crise afectar o resto do mundo, em particular a Europa, é uma evidência muito clara. Resta apenas esperar para ver a dimensão desse impacto.
Nos EUA a crise já está a ter consequências na economia real: a confiança dos consumidores americanos caiu significativamente; o preço das casas sofreu um acentuado decréscimo e começam a surgir notícias de que grandes empresas americanas ou anunciam os seus avultados prejuízos, ou, em última instância, anunciam a falência. A maior construtora americana – a Lennar – anunciou prejuízos na ordem dos 364 milhões de euros. É inevitável que a crise que teve origem no mercado imobiliário vai ter (e já começou a ter) consequências ao nível do emprego. Vamos assistir, com fortes certezas, a um aumento do desemprego. De facto, o impacto da crise dos mercados financeiros na economia real é um processo irreversível.
Do mesmo modo, os bancos procuram proteger-se dos riscos dificultando e encarecendo o crédito, assim, a procura de casas e outros bens sofrerá indubitavelmente uma baixa de acentuado relevo. E a possibilidade da Reserva Federal Americana baixar novamente os juros parece agora ser uma forte possibilidade.
Sublinhe-se ainda que o FMI alertou para a possibilidade da crise ter um acentuado impacto na evolução das economias e para que a mesma se possa prolongar por período alargado de tempo. O FMI chama a atenção para os problemas que surgem em torno do crédito, designadamente, para o aumento do custo do mesmo e para os obstáculos que serão colocados para obtenção de crédito. A previsão do FMI de uma solidez no crescimento da economia mundial dá, apesar de tudo, algum ânimo.
É evidente que o impacto desta crise é mais forte nos EUA, mas as restantes economias não terão a capacidade de escapar incólume ao impacto da crise. Em rigor, as bolsas ressentem-se da crise; o Euro atinge máximos históricos; a confiança dos agentes económicos, na Europa, é afectada pela crise financeira. Fica, de qualquer modo, a estupefacção perante a incompetência na avaliação do risco nos EUA. A questão do mercado subprime americano deve ser uma lição para a economia mundial. Primeira lição: o triunfo do neoliberalismo é paradoxalmente o início da sua ruína.
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