
Segundo um relatório da Amnistia Internacional, divulgado esta semana, a China continua a desrespeitar os mais básicos direitos humanos, isto depois do compromisso chinês de registar progressos em matéria de direitos humanos. É inadmissível que um país que teima em não respeitar os seus cidadãos possa ser o anfitrião dos jogos olímpicos. E mais: o espírito olímpico não se coaduna com a pena de morte, com a repressão a jornalistas, escritores e activistas dos direitos humanos, nem tão-pouco se coaduna com o clima de forte repressão que caracteriza a China.
É claro que hoje se olha para a China com outros olhos, afinal trata-se de um mercado apetecível. Se no passado se temia a China apenas por razões geo-estratégicas; hoje a situação é distinta, a China provoca em grande parte do mundo ocidental um misto de sentimentos – teme-se a China, mas simultaneamente sentimo-nos atraídos pela dimensão do seu mercado e potencialidades do mesmo. É mesmo curioso verificar que não há muito tempo se criticava veementemente a China pelo mais gritante desrespeito pelos direitos humanos, todavia nos últimos anos essas críticas sofreram um duro revés: a China passou a ter uma nova preponderância, a nível internacional, após a sua entrada para a Organização Mundial do Comércio.
Do mesmo modo, uma outra organização – Repórteres sem Fronteiras – denuncia o mais completo desprezo, por parte das autoridades chinesas, pela liberdade de expressão. Os jogos olímpicos que se realizam de hoje a um ano serão, certamente, um dos maiores exemplos de hipocrisia das últimas décadas. O espírito olímpico que se caracteriza pelo respeito pela dignidade humana será tão-somente uma farsa ridícula a ter lugar num país tirano.
Ora, a hipocrisia de países como os Estados Unidos que alteram a sua política externa em função dos seus interesses mais imediatos, é mais do que evidente. Não será por acaso que num passado recente os EUA exigiam o respeito pelos direitos humanos por parte da China, mas hoje a situação mudou, assim como a política americana relativamente a esta questão. Essa mudança não se deu apenas por razões económicas, mas passa incontornavelmente pela importância da China no apaziguamento de uma Coreia do Norte que passa por episódios que revelam a paranóia do seu inefável líder. De resto, a China é o “prozac” da Coreia do Norte.
Enfim, é toda esta conjuntura que invalida a luta, por parte de países como os EUA, pelos mais básicos direitos humanos. Apesar de se perceber a aproximação do Ocidente à China, não se compreende que a questão dos direitos humanos seja obliterada por países que têm na sua origem esses mesmos princípios – como é o caso dos EUA. O Comité Olímpico deveria rever a escolha do anfitrião para os jogos olímpicos, em caso de desrespeito grave pelos direitos humanos – como é o caso – é preferível que os jogos olímpicos nem sequer tenham lugar num país que reitera diariamente a sua tirania.
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