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Crise imobiliária americana: consequências


A crise imobiliária nos EUA começou no mercado do subprime, sendo certo que ninguém ao certo saberá qual é a extensão do problema. Na prática, foi a ausência de avaliações criteriosas no que diz respeito aos créditos de risco que desencadeou uma crise que volta a colocar a tónica na desconfiança e no nervosismo nos mercados internacionais. Reina a desconfiança, essa é das poucas certezas que se pode avançar neste momento.

As consequências desta crise passarão, incontornavelmente, pela dificultação, por parte dos bancos, no acesso ao crédito, em particular, no acesso ao crédito de elevado risco. Esta maior dificuldade na obtenção de créditos será o resultado de maiores cautelas da banca na concessão de crédito através de avaliações mais precisas no que diz respeito ao risco associado ao empréstimo. Alguns economistas avançam a possibilidade de aumentos dos spreads, e na possibilidade de aplicação de taxas de juro distintas, consoante o nível de risco associado ao empréstimo.

Recorde-se que foi a avaliação do risco associado a alguns créditos que parece ter dado origem a esta crise; assim, é natural que os bancos procurem não cometer os erros dos americanos. Ficando, ainda assim, por esclarecer como é que algumas agências foram tão displicentes na avaliação do risco em alguns créditos, designadamente no mercado subprime.

Outra consequência óbvia da crise imobiliária americana é a quebra dos mercados bolsistas internacionais. Neste caso, o nervosismo parece ser, novamente, um dos principais culpados. Lisboa não foi excepção e sofreu mesmo a maior quebra nos últimos anos, desde 1998 que a bolsa portuguesa não sofria uma quebra tão acentuada. Isto acontece num contexto que tem sido manifestamente favorável para a bolsa de Lisboa, mas também para as principais bolsas europeias que têm crescido nestes últimos quatro anos. A crise imobiliária americana provocou uma queda nos mercados de capitais, o que tem consequências negativas para as bolsas.

Em suma, as consequências mais evidentes já estão a ter lugar nos mercados bolsistas, mas a crise imobiliária americana terá igualmente consequências ao nível da concessão do crédito. Em Portugal os principais bancos tem reagido à crise com relativa prudência, mas a possibilidade de dificultação no acesso ao crédito é real. Aliás, o elevado endividamento das famílias, os aumentos das taxas de juros e a crise indelével são alertas para os bancos. A concessão de crédito deve ter em conta todos os riscos associados.

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