
Já aqui foi referida a situação, muito próxima da guerra civil, que se vive nos territórios palestinianos. Apesar disso, o agravamento do clima de instabilidade que tem marcado a Cisjordânia e a Faixa de Gaza justifica mais um texto sobre o assunto. Efectivamente, as dissensões internas que se traduzem num recrudescimento da violência apontam para um retrocesso substancial no processo de paz do Médio Oriente. Para além do conflito israelo-palestiniano – ainda longe de um apaziguamento –, é agora a divisão dos territórios palestinianos que configura um forte golpe nas aspirações na criação de um futuro Estado palestiniano.
Recorde-se que a criação de um Estado palestiniano é condição sine qua non para a estabilização da região. Contudo, a Palestina está a sofrer divisões inexoráveis: por um lado, a Cisjordânia, controlada até ao momento pela Fatah de Mahmoud Abbas; por outro a Faixa de Gaza controlada pelo Hamas de Ismail Hanieyh. É ainda de sublinhar que a Fatah do Presidente Abbas corre o risco de perder o controlo sobre a região da Cisjordânia. Em suma, verifica-se uma divisão da Palestina, havendo mesmo quem fale na existência, mais do que plausível, de duas Palestinas.
Interessa, pois, sublinhar que a Fatah da Autoridade Palestiniana é apoiada pelos EUA e acusada pelos opositores de ser complacente com a corrupção. Num outro plano, o Hamas é associado ao terrorismo e não tem o reconhecimento quer dos EUA, quer da União Europeia. O Hamas tem um historial preocupante de radicalismo islâmico e de não-aceitação do estado de Israel. Nestas condições, a governação dos territórios palestinianos tem sido uma nulidade, com a agravante de se ter tornado absolutamente inexequível com as lutas constantes entre milícias do Hamas (do ex. primeiro-ministro) e da Fatah (do Presidente).
A partição dos territórios em dois torna impossível a criação do Estado palestiniano e coloca o periclitante processo de paz num plano utópico. É, por conseguinte, crucial que a comunidade internacional, com a imprescindível colaboração de Israel, possa intervir no sentido de coarctar a violência que se vive nos territórios. Se o processo de paz tem sido, de facto, incipiente, a divisão dos territórios palestinianos não pode ser uma realidade sob pena do radicalismo, em particular do Hamas, tomar conta da região. O perigo é real – territórios divididos, milícias que instigam a violência, uma comunidade internacional, encabeçada pelos EUA, que nunca se empenhou na procura de soluções e na aplicação das mesmas e um povo completamente destituído de esperança e vulnerável ao fanatismo religioso são ingredientes que contribuem para a irreversibilidade da situação.
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