
A clivagem entre políticos e cidadãos tem sofrido um aumento exponencial nos últimos anos, basta olhar para os estudos de opinião ou ouvir o cidadão comum falar de política e dos políticos. Ora, a descrença generalizada da classe política é diametralmente oposta à importância que a política e os políticos devem ter. À simples pergunta sobre a intenção de exercer o direito de voto, muitos respondem com um retumbante não. Aliada à inépcia de muitos políticos existe uma crise que se arrasta há demasiado tempo. O Partido do Governo que não se iluda: as sondagens favoráveis às políticas do Governo são um reflexo de algum desespero e ausência de esperança, na medida em que depois de anos de instabilidade política os portugueses não querem mais interrupções na legislatura, preferem, pois, que o Governo aplique as suas políticas até ao fim da legislatura. Isto não significa, por conseguinte, que os portugueses estão satisfeitos com o Governo ou com o estado do país.
Importa, contudo, referir que, em consequência de uma globalização em ritmo acelerado, os políticos têm perdido alguns dos seus instrumentos tradicionais: veja-se por exemplo as políticas económicas que têm saído da alçada dos Governos para passarem a ser reguladas pelo mercado ou por instâncias supra-nacionais. No caso específico português, já não é possível ao Governo aplicar determinados instrumentos no plano económico, em consequência da União Económica e Monetária e das políticas do Banco Central Europeu. Assim, não é, portanto, de causar grande admiração que os políticos vejam a suas posições fragilizadas.
Para além desta causa exógena que justifica o crescente descrédito da classe política, existem uma multiplicidade de outras possíveis razões que permitem fundamentar o afastamento entre políticos e cidadãos. Desde logo, nunca é demais salientar a responsabilidade que muitos políticos têm nesta matéria, senão vejamos: as mentiras, a falsidade que ensombra qualquer campanha eleitoral, a altivez de quem se encontra no poleiro, chamemos-lhe assim, causam um profundo mal-estar democrático. Já para não falar da insipiência de deputados cuja função primordial é seguirem, ao estilo de um rebanho, as indicações da direcção do partido. O parlamento é, hoje, o paradigma de país político que padece de uma espécie de paralisia. Não existe livre arbítrio, não existe um verdadeiro debate de ideias, resta apenas a vacuidade.
O descrédito é transversal a toda a classe política: Governo, partidos da oposição, deputados, autarcas, etc. Ora a equação é simples: num clima de profunda crise e de crescentes dificuldades dos portugueses, soma-se a arrogância de alguma classe política, soma-se ainda a falta de transparência e acrescenta-se também a manifesta incompetência de muitos políticos em encontrarem novas formas de comunicar com os cidadãos, novas formas de ultrapassar a inépcia, o chico-espertismo e o caciquismo que são as matizes de um país que resiste à modernidade preferindo sucumbir ao atraso.
O país está a precisar de um reforma urgente do Parlamento e dos próprios partidos políticos, caso contrário os melhores continuarão a ser afastados por um sistema que premeia a incompetência e a bajulação. A política em Portugal precisa de um rejuvenescimento. As pessoas querem ver caras novas, discursos diferentes mais próximos da verdade e da transparência, as pessoas querem mudanças. O cansaço relativamente à política e aos seus clichés de fato e gravata são entediantes e improfícuos. Todavia, não se confunda esta classe política que está à frente dos destinos do país com a importância que deve ser dada à política e, em particular, aos Partidos Políticos – pilares da democracia. E é, precisamente, em nome dessa mesma importância que se faz esta chamada de atenção: o país precisa uma nova classe política, com novas ideias, novas formas de governar – sem resvalar para o autoritarismo –, e uma nova classe política que perceba que o mundo mudou, e com ele a forma de se fazer política terá também que mudar.
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