Há um ódio de estimação pela intelectualidade de esquerda e há também um ódio de estimação promovido em parte por essa mesma intelectualidade relativamente à direita, com, convenhamos, demasiadas generalizações.
No entanto, o ódio de estimação pela intelectualidade de esquerda fomentado por uma direita extremista tem vindo a ganhar contornos preocupantes, designadamente com a ascensão de tiranetes que estão empenhados num processo de destruição das democracias.
Ora, dito isto, importa perceber as causas que subjazem a esse ódio de estimação com consequências particularmente nefastas para as democracias. De resto, esse ódio recrudesce à medida que a incompreensão relativamente aos tempos em que vivemos aumenta e que a esperança diminui - um ódio que dá força e é naturalmente alimentado pela extrema-direita; um ódio que se espalha por todo o lado: através da forma bacoca de se fazer politica, através da arte e pela crítica à transgressão tão inerente à arte; pelos "bons costumes" na sociedade, etc.
Existe uma parte da direita, muito especificamente a alt-right americana, que alimenta uma cultura tóxica, assente na ignorância e na boçalidade que procura apelar aos sentimentos mais primários de quem não compreende o mundo em que vive e de quem se sente excluído por ele - de quem tem vindo a perder importância a cada dia que passa, desprovido de qualquer esperança num amanhã melhor. A outra direita - a democrática - prefere assistir de camarote ou dar o seu apoio, de forma cada vez menos tácita.
O resultado está à vista: Trump, Brexit, Bolsonaro - naquilo que pode muito bem ser o último estertor das democracias tal como as conhecemos. E esses ódios estão muito longe de cessar.
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