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ADSE: uma guerra injusta

Esta guerra entre Estado e empresas no sector da saúde, com as últimas a rasgarem contratos com a ADSE é profundamente injusta para os beneficiários que, recorde-se, pagam inteiramente este subsistema de saúde. Mais: as razões invocadas por essas empresas, designadamente pelo Mello Saúde e Luz esbarram na lei e denotam uma ganância que não se justifica nem num contexto de capitalismo selvagem.
A ADSE reclama 38 milhões de euros com base num parecer da Procuradoria-Geral da República, os privados que se julgam acima da lei apoiam-se na chantagem e rasgam contratos, manifestando um desprezo abjecto pela saúde das pessoas - o lucro, o sacrossanto lucro, fala sempre mais alto. E quanto às tabelas de preços, a gula sempre foi apanágio destas empresas, por conseguinte não se encontra qualquer razão de espanto.
Ora, o que esta guerra nos mostra é que a chantagem também pode ser cartelizada e que o Estado tem que ter cuidado extremo nas relações que estabelece com estas empresas, cuidado extremo. De resto, ninguém coloca em causa a procura de lucro por parte destas e de outras empresas privadas, o que se põe em causa é não só o desrespeito pela lei, como a voracidade que degenera num desprezo desumano por quem já está em sofrimento.
E depois há as coincidências: a discussão que tem agora lugar a propósito da Lei de Bases da Saúde que traz à colação o papel dos privados nesta área da Saúde. Coincidências.
Não seria má ideia olhar para o caso de Vasco de Mello (Grupo Mello) e para os 900 milhões que ficou a dever à Caixa Geral de Depósitos; tivesse o banco do Estado agido da mesma forma como o Grupo Mello age agora neste processo da cartelização de chantagem, brincando com as vidas das pessoas, e teria caído o Carmo e a Trindade.

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