Caímos, e muitos de nós sem sequer
se dar conta, numa nova normalidade, num normal marcado pelo
niilismo; numa nova normalidade que nega a moral e, em última
análise, a verdade.
Neste
contexto de nova normalidade, a indiferença de uns e o ódio de
outros permitem que o Presidente dos EUA, Donald Trump, a propósito
daqueles que procuram entrar em solo americano, dê carta branca aos
militares para disparar sobre quem atirar uma pedra, transformando e
deturpando a realidade que postula a força e eficácia de uma arma
versus a tibieza com muito menor eficácia da pedra. A vida cessa de
ser o valor supremo. E todos aceitam esta nova normalidade.
Apenas
neste contexto é que se compreende que a eleição de Bolsonaro seja
considerada o novo normal, isto apesar dos retrocessos
civilizacionais prometidos. Apenas neste contexto do novo normal é
que se percebe a escolha de Sérgio Moro, juiz que se alimentou do
prazer de prender Lula, para novo super ministro da Justiça e das
policias – um forte contributo para a desavergonhada destruição
da separação de poderes e, por inerência, da própria democracia.
Apenas
neste contexto de novo normal, dominado pelo mais abjecto niilismo,
se convive com uma longa estirpe de ditadores, misóginos, boçais e
sem qualquer espécie de pudor que mostram que o pior da espécie
humano é o novo normal, é a nova regra, é o novo modelo.
Por
cá, a expressão dessa nova normalidade parece ainda incipiente,
graças a uma solução política que funciona, a um Presidente que
sabe ser presidente e ao líder do maior partido da oposição que,
apesar de todas as críticas de que nos possamos lembrar, ainda não
cedeu ao novo normal. Mas até quando?
Por
aí, pelas ruas e agora pelas redes sociais, sentimos um ódio cada
menos latente, cada vez menos no ar, cada vez mais entranhado em cada
um de nós; olhamos para um panorama que nos mostra demasiada gente
zangada e confusa.
Por
enquanto vamos andando menos mal, quando a grande polémica política
se prende com as unhas de uma deputada. É que nem a pessoa mais
zangada do mundo consegue tirar sumo suficiente dessa história,
desse fait-divers. E por enquanto vamos andando menos mal. Por
enquanto.
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