Avançar para o conteúdo principal

Merkel e o seu contributo para a consolidação da democracia europeia

Angela Merkel, considerada agora como liderando o grupo de grandes arautos da Europa democrática, anunciou o seu abandono do seu partido, CDU.
Ainda não tendo abandonado quer o partido, quer o próprio cargo de chanceler que, ao que tudo indica, é mesmo para levar até ao fim, já há quem lamente a saída da maior figura democrata da Europa recente.
Para a construção dessa imagem muito tem contribuído uma inacreditável falta de memória ou, uma incapacidade de relacionar as decisões tomadas, sobretudo na esfera económica, e um afastamento cada vez mais notório dos cidadãos relativamente aos políticos e aos partidos convencionais. 
Merkel e o seu governo, liderando uma Europa que continua a ser acéfala, humilharam Estados-membros da UE, empurrando-os ainda mais para a miséria, depois de anos e anos a despejarem nesses mercados o que se produzia na Alemanha, dando um forte contributo para o endividamento dos países que mais tarde viriam a ser alvo da humilhação.
Ora, neste contexto considerar a chanceler alemã como o melhor exemplo de democrata é simplesmente desonesto. A sua acção política, que contou com a participação central do inefável Schäuble, deu uma forte machadada no projecto europeu de democracia, ou alguém pode esperar que esse projecto subsista quando não existiu o mínimo de coesão? 
De resto, muitos almejaram uma Europa como antídoto contra as divisões e contra as ideologias mais nefastas. Merkel, ao contrário do que por aí dizem, não protegeu a Europa dessas investidas anti-democráticas, bem pelo contrário, ao humilhar, ao desprezar e ao cuspir em cima de alguns Estados-membros deu um forte contributo para o enfraquecimento do próprio projecto europeu.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Saídas para os impasses

As últimas semanas têm sido pródigas na divulgação de escândalos envolvendo o primeiro-ministro e as suas obrigações com a Segurança Social e com o Fisco. Percebe-se que os princípios éticos associados ao desempenho de funções políticas são absolutamente ignorados por quem está à frente dos destinos do país - não esquecer que o primeiro-ministro já havia sido deputado antes de se esquecer de pagar as contribuições à Segurança Social. A demissão está fora de questão até porque o afastamento do cargo implica, por parte do próprio, um conjunto de princípios que pessoas como Passos Coelho simplesmente não possuem. A oposição, a poucos meses de eleições, parece preferir que o primeiro-ministro coza em lume brando. E com tanta trapalhada insistimos em não discutir possíveis caminhos e saídas para os impasses com que o país se depara. Governo e oposição (sobretudo o Partido Socialista) agem como se não tivessem de possuir um único pensamento político. Assim, continuamos sem saber o que...

Fim do sigilo bancário

Tudo indica que o sigilo bancário vai ter um fim. O Partido Socialista e o Bloco de Esquerda chegaram a um entendimento sobre a matéria em causa - o Bloco de Esquerda faz a proposta e o PS dá a sua aprovação para o levantamento do sigilo bancário. A iniciativa é louvável e coaduna-se com aquilo que o Bloco de Esquerda tem vindo a propor com o objectivo de se agilizar os mecanismos para um combate eficaz ao crime económico e ao crime de evasão fiscal. Este entendimento entre o Bloco de Esquerda e o Partido Socialista também serve na perfeição os intentos do partido do Governo. Assim, o PS mostra a sua determinação no combate à corrupção e ao crime económico e, por outro lado, aproxima-se novamente do Bloco de Esquerda. Com efeito, a medida, apesar de ser tardia, é amplamente aplaudida e é vista como um passo certo no combate à corrupção, em particular quando a actualidade é fortemente marcada por suspeições e por casos de corrupção. De igual forma, as perspectivas do PS conseguir uma ma...

Outras verdades

 Ontem realizou-se o pior debate da história das presidenciais americanas. Trump, boçal, mentiroso, arrogante e malcriado, versus Biden que, apesar de ter garantido tudo fazer  para não cair na esparrela do seu adversário, acabou mesmo por cair, apelidando-o de mentiroso e palhaço.  Importa reconhecer a incomensurável dificuldade que qualquer ser humano sentiria se tivesse que debater com uma criança sem qualquer educação. Biden não foi excepção. Trump procurou impingir todo o género de mentiras, que aos ouvidos dos seus apoiante soam a outras verdades, verdades superiores à própria verdade. Trump mentiu profusamente, até sobre os seus pretensos apoios. O sheriff de Portland, por exemplo, já veio desmentir que alguma vez tivesse expressado apoio ao ainda Presidente americano. Diz-se por aí que Trump arrastou Biden para a lama. Eu tenho uma leitura diferente: Trump tem vindo a arrastar os EUA para lama. Os EUA, nestes árduos anos, tem vindo a perder influência e reputação ...