O neoliberalismo deu à luz gerações de frustrados, despidos de qualquer
esperança num futuro melhor para si e para os seus, empenhados em
dirigir a revolta contra os que lutam politica e democraticamente contra
as desigualdades, sempre na expectativa do regresso de um pai que os
proteja e que lance luz sobre um mundo que já não compreendem e que lhes
causa tanto sofrimento. É também desta forma que se explica a ascensão
dos movimentos fascistas.
De resto, essas gerações que outrora se
sentiam confortavelmente nas classes médias ou com esperanças de vir a
entrar nesse clube, agarram-se agora ao primeiro ditador boçal,
invariavelmente armado com um discurso simplório, mas pejado de ódio, um
ódio que é simultaneamente um sucesso precisamente por ser um ódio
contra si próprio.
Por outro lado, o terreno não podia ser
mais propício ao regresso do fascismo: a tecnologia cria a ideia de
desenvolvimento e de mais informação. Pelo caminho não existe cultura
democrática, apenas órfãos da História, com gente adulta transformada em
crianças que seguem radicalmente os pais, chegando mesmo a abandonar os
seus egos para andar atrás de quem lhes promete a ruptura.
Que
não subsistam dúvidas: o neoliberalismo deu um forte contributo para o
enfraquecimento massivo não só das democracias (que não resistem a
níveis elevados de desigualdade social), mas também da auto-estima de
demasiada gente.
E perante o regresso do fascismo, promovem-no
ou silenciam-se, um pouco à semelhança das elites alemãs que,
desvalorizando Hitler, julgavam que o conseguiam controlar.
Enganaram-se. Para desgraça de todos.
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