Avançar para o conteúdo principal

Sectarismo

O sectarismo está a tomar conta da política em vários países, alguns dos quais constituem uma verdadeira surpresa, como o caso dos EUA. E é graças também a esse sectarismo que Donald Trump chegou à presidência.
O sectarismo traduz-se no espírito de intolerância com partidos divididos por "raças", religião e situação sócio-económica. Paralelamente cresce a ideia, junto daqueles mais próximos do partido Republicano, que os brancos, cristãos, estão a perder força no tabuleiro político, forçando-os a uma reacção de apoio àqueles que propõe medidas, por muito obtusas que sejam, para mitigar ou reverter o actual estado de coisas. Um pouco na senda da famigerada frase "make America great again". Em contrapartida, o partido democrata é visto como agregador de minorias, cada vez menos minoritárias.
De resto, a presidência de Obama veio agravar esse sentimento de perda de importância e transferência de poder para as chamadas "minorias" não brancas e não cristãs. Afinal de contas, alguém pertencente a esse contexto chegou mesmo à presidência dos EUA.
Terá sido precisamente durante a presidência de Obama que o espírito de tolerância, que sempre ou quase sempre marcou as relações entre os dois partidos e até entre Presidente e Congresso, mais se degradou, sobretudo com o partido republicano, arrastado por meios de comunicação social verdadeiramente extremistas, a bloquear o Presidente Obama. A pouca tolerância que restava esgotou-se.
Donald Trump aproveitou a oportunidade, mentindo descaradamente e espalhando boatos referentes às origens não americanas de Obama e ao suposto passado criminoso de Hillary Clinton. Trump agregou os que se sentiram ameaçados, sobretudo com as questões raciais subjacentes, durante os anos Obama, ao passo que Clinton não foi capaz de galvanizar o eleitorado do partido democrata.
Neste contexto, a que acresce o desinteresse de muitos que olham para a democracia como um dado adquirido, Trump chegou à Presidência dos EUA.
O sectarismo não é, contudo, um exclusivo americano, como também se vê no Brasil, embora com menor preponderância dos partidos, designadamente do partido de Bolsonaro. O resultado, ao que tudo indica, será semelhante e provavelmente até pior. Um ditador, boçal e ordinário, que apresenta um projecto de enfraquecimento e até liquidação da democracia e que vê esse projecto aprovado ironicamente através do voto.

--

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Mais uma indecência a somar-se a tantas outras

 O New York Times revelou (parte) o que Donald Trump havia escondido: o seu registo fiscal. E as revelações apenas surpreendem pelas quantias irrisórias de impostos que Trump pagou e os anos, longos anos, em que não pagou um dólar que fosse. Recorde-se que todos os presidentes americanos haviam revelado as suas declarações, apenas Trump tudo fizera para as manter sem segredo. Agora percebe-se porquê. Em 2016, ano da sua eleição, o ainda Presidente americano pagou 750 dólares em impostos, depois de declarar um manancial de prejuízos, estratégia adoptada nos tais dez anos, em quinze, em que nem sequer pagou impostos.  Ora, o homem que sempre se vangloriou do seu sucesso como empresário das duas, uma: ou não teve qualquer espécie de sucesso, apesar do estilo de vida luxuoso; ou simplesmente esta foi mais uma mentira indecente, ou um conjunto de mentiras indecentes. Seja como for, cai mais uma mancha na presidência de Donald Trump que, mesmo somando indecências atrás de indecências, vai fa

Outras verdades

 Ontem realizou-se o pior debate da história das presidenciais americanas. Trump, boçal, mentiroso, arrogante e malcriado, versus Biden que, apesar de ter garantido tudo fazer  para não cair na esparrela do seu adversário, acabou mesmo por cair, apelidando-o de mentiroso e palhaço.  Importa reconhecer a incomensurável dificuldade que qualquer ser humano sentiria se tivesse que debater com uma criança sem qualquer educação. Biden não foi excepção. Trump procurou impingir todo o género de mentiras, que aos ouvidos dos seus apoiante soam a outras verdades, verdades superiores à própria verdade. Trump mentiu profusamente, até sobre os seus pretensos apoios. O sheriff de Portland, por exemplo, já veio desmentir que alguma vez tivesse expressado apoio ao ainda Presidente americano. Diz-se por aí que Trump arrastou Biden para a lama. Eu tenho uma leitura diferente: Trump tem vindo a arrastar os EUA para lama. Os EUA, nestes árduos anos, tem vindo a perder influência e reputação e Trump é o ma

Normalização do fascismo

O PSD Açores, e naturalmente com a aprovação de Rui Rio, achou por bem coligar-se com o "Chega". Outros partidos como o Iniciativa Liberal (IL) e o CDS fizeram as mesmas escolhas, ainda que o primeiro corra atrás do prejuízo, sobretudo agora que a pandemia teve o condão de mostrar a importância do Estado Social que o IL tão avidamente pretende desmantelar, e o segundo se tenha transformado numa absoluta irrelevância. Porém, é Rui Rio, o mesmo que tem cultivado aquela imagem de moderado, que considera que o "Chega" nos Açores é diferente do "Chega" nacional. Rui Rio, o moderado, considera mesmo que algumas medidas do "Chega" como a estafada redução do Rendimento Social de Inserção é um excelente medida. Alheio às características singulares da região, Rui Rio pensa que com a ajuda do "Chega" vai tirar empregos da cartola para combater a subsidiodependência de que tanto fala, justificando deste modo a normalização que está a fazer de um pa