A democracia, o tal sistema a que nos
habituámos, de tal maneira que nos esquecemos de lutar por ele, está
em perigo de morrer e até em países europeus como a Hungria essa
morte já foi consumada.
Em
tempos, as democracias morriam às mãos de golpes militares ou
outros golpes de Estado, agora são os próprios cidadãos, através
do seu voto, a viabilizar a escolha do autoritarismo que, no melhor
dos casos, enfraquecerá o sistema democrático e, no pior, acabará
por matar a própria democracia.
A
democracia morre assim às mãos de cidadãos descontentes e/ou
desinteressados, executada por ditadores que usam caminhos
democráticos a seu favor, transformando-os, dando-lhe o tão
necessário cariz autoritário.
Dissociar
a evolução do capitalismo desta deriva autoritária pode ser um
exercício precipitado. De resto, o capitalismo selvagem pejado de
especulação, pai das desigualdades, movido exclusivamente pelo
aumento do lucro e convenientemente disfarçado pela tecnologia e
pelos seus encantos, dá origem a um mundo a que muitos não sentem
pertencer; dá origem a um mundo que muitos simplesmente não
compreendem (Nietzsche já dizia que o maior dos perigos acontecia
quando tudo deixava de fazer sentido); dá origem a um mundo sem
esperança numa vida melhor para si e para o seus filhos.
Por
outro lado, esses ditadores ou aqueles que tentam lá chegar contam
com o apoio, mais ou menos tácito, das elites capitalistas para quem
a morte da democracia não é forçosamente negativa desde que essa
morte e o que lhe sucede não ameace os negócios. Não se espere,
consequentemente, que sejam essas elites a lutar pelas democracias,
desde logo porque essas mesmas elites quando colocadas perante a
possibilidade de se deitarem com Deus e com o diabo escolhem quem dá
mais lucro.
Perante
isto, resta aos cidadãos saírem das suas redomas para lutar pela
democracia – uma luta que, em bom rigor, nunca devia ter sido
abandonada. Resta aos cidadãos lutarem pela democracia – pela sua
soberania, pela possibilidade de escolha, pelo seu poder - sobretudo
aqueles que escolhem o silêncio como modo de vida.
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