Avançar para o conteúdo principal

A morte das democracias

A democracia, o tal sistema a que nos habituámos, de tal maneira que nos esquecemos de lutar por ele, está em perigo de morrer e até em países europeus como a Hungria essa morte já foi consumada.
Em tempos, as democracias morriam às mãos de golpes militares ou outros golpes de Estado, agora são os próprios cidadãos, através do seu voto, a viabilizar a escolha do autoritarismo que, no melhor dos casos, enfraquecerá o sistema democrático e, no pior, acabará por matar a própria democracia.
A democracia morre assim às mãos de cidadãos descontentes e/ou desinteressados, executada por ditadores que usam caminhos democráticos a seu favor, transformando-os, dando-lhe o tão necessário cariz autoritário.
Dissociar a evolução do capitalismo desta deriva autoritária pode ser um exercício precipitado. De resto, o capitalismo selvagem pejado de especulação, pai das desigualdades, movido exclusivamente pelo aumento do lucro e convenientemente disfarçado pela tecnologia e pelos seus encantos, dá origem a um mundo a que muitos não sentem pertencer; dá origem a um mundo que muitos simplesmente não compreendem (Nietzsche já dizia que o maior dos perigos acontecia quando tudo deixava de fazer sentido); dá origem a um mundo sem esperança numa vida melhor para si e para o seus filhos.
Por outro lado, esses ditadores ou aqueles que tentam lá chegar contam com o apoio, mais ou menos tácito, das elites capitalistas para quem a morte da democracia não é forçosamente negativa desde que essa morte e o que lhe sucede não ameace os negócios. Não se espere, consequentemente, que sejam essas elites a lutar pelas democracias, desde logo porque essas mesmas elites quando colocadas perante a possibilidade de se deitarem com Deus e com o diabo escolhem quem dá mais lucro.
Perante isto, resta aos cidadãos saírem das suas redomas para lutar pela democracia – uma luta que, em bom rigor, nunca devia ter sido abandonada. Resta aos cidadãos lutarem pela democracia – pela sua soberania, pela possibilidade de escolha, pelo seu poder - sobretudo aqueles que escolhem o silêncio como modo de vida.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Mais uma indecência a somar-se a tantas outras

 O New York Times revelou (parte) o que Donald Trump havia escondido: o seu registo fiscal. E as revelações apenas surpreendem pelas quantias irrisórias de impostos que Trump pagou e os anos, longos anos, em que não pagou um dólar que fosse. Recorde-se que todos os presidentes americanos haviam revelado as suas declarações, apenas Trump tudo fizera para as manter sem segredo. Agora percebe-se porquê. Em 2016, ano da sua eleição, o ainda Presidente americano pagou 750 dólares em impostos, depois de declarar um manancial de prejuízos, estratégia adoptada nos tais dez anos, em quinze, em que nem sequer pagou impostos.  Ora, o homem que sempre se vangloriou do seu sucesso como empresário das duas, uma: ou não teve qualquer espécie de sucesso, apesar do estilo de vida luxuoso; ou simplesmente esta foi mais uma mentira indecente, ou um conjunto de mentiras indecentes. Seja como for, cai mais uma mancha na presidência de Donald Trump que, mesmo somando indecências atrás de indecências, vai fa

Outras verdades

 Ontem realizou-se o pior debate da história das presidenciais americanas. Trump, boçal, mentiroso, arrogante e malcriado, versus Biden que, apesar de ter garantido tudo fazer  para não cair na esparrela do seu adversário, acabou mesmo por cair, apelidando-o de mentiroso e palhaço.  Importa reconhecer a incomensurável dificuldade que qualquer ser humano sentiria se tivesse que debater com uma criança sem qualquer educação. Biden não foi excepção. Trump procurou impingir todo o género de mentiras, que aos ouvidos dos seus apoiante soam a outras verdades, verdades superiores à própria verdade. Trump mentiu profusamente, até sobre os seus pretensos apoios. O sheriff de Portland, por exemplo, já veio desmentir que alguma vez tivesse expressado apoio ao ainda Presidente americano. Diz-se por aí que Trump arrastou Biden para a lama. Eu tenho uma leitura diferente: Trump tem vindo a arrastar os EUA para lama. Os EUA, nestes árduos anos, tem vindo a perder influência e reputação e Trump é o ma

Normalização do fascismo

O PSD Açores, e naturalmente com a aprovação de Rui Rio, achou por bem coligar-se com o "Chega". Outros partidos como o Iniciativa Liberal (IL) e o CDS fizeram as mesmas escolhas, ainda que o primeiro corra atrás do prejuízo, sobretudo agora que a pandemia teve o condão de mostrar a importância do Estado Social que o IL tão avidamente pretende desmantelar, e o segundo se tenha transformado numa absoluta irrelevância. Porém, é Rui Rio, o mesmo que tem cultivado aquela imagem de moderado, que considera que o "Chega" nos Açores é diferente do "Chega" nacional. Rui Rio, o moderado, considera mesmo que algumas medidas do "Chega" como a estafada redução do Rendimento Social de Inserção é um excelente medida. Alheio às características singulares da região, Rui Rio pensa que com a ajuda do "Chega" vai tirar empregos da cartola para combater a subsidiodependência de que tanto fala, justificando deste modo a normalização que está a fazer de um pa