O Partido Socialista, a parte mais
relevante pelo menos, decidiu virar-se contra José Sócrates, depois
de anos de silêncio confrangedor. O Presidente do partido, Carlos
César, depois de ter sido visado a propósito de gastos excessivos
mas legais ressalva, entre viagens reais e outras nem tanto, abriu as
hostilidades, proferindo palavras duras contra José Sócrates e
contra o ex-ministro Manuel Pinho.
Mais tarde foi a vez de António Costa
escolher abordar de forma mais directa e indiscutivelmente negativa o
assunto. Creio que terá sido esta a gota de água que terá
resultado no afastamento definitivo de Sócrates do PS.
Com efeito, foram anos marcados pelo
tal silêncio confrangedor disfarçado numa vontade inexpugnável de
respeitar a separação de poderes, não misturando o que pertence à
política com o que pertence à justiça.
Dir-se-á que terão sido as
revelações sobre as obscenidades praticadas pelo ex-ministro de
Sócrates, Manuel Pinho, a desencadearem esta onda de protestos no
seio do PS. Na verdade, as ditas obscenidades colocaram a nu todo um
mundo vergonhoso de promiscuidade entre o poder político e o poder
económico – facto que resultou num coro de críticas por parte dos
partidos da oposição e na necessidade do PS se afastar, não
deixando quaisquer margem para dúvidas, dessa mesma promiscuidade.
Ainda assim, permanecem as dúvidas se
as revelações em torno de Manuel Pinho seriam suficientes para
retirar, de forma inexorável, o PS do silêncio.
Fica a ideia de um partido incomodado
que procurou fugir da questão sempre que pode e que agora viu uma
oportunidade de se livrar daquele terrível fardo. Por vezes não é
preciso um terramoto para fazer a mudança, basta um simples abalo e
o subsequente temor que esse abalo provoca: com a ideia de que na
próxima será mesmo o terramoto.
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