Os programas de televisão da manhã são palcos onde prolifera livremente a demagogia. Sem qualidade, refreando-se ao mínimo de substância, os ditos programas convidam aqueles que em palcos onde impera a seriedade não têm lugar. Os Camilos e os Marinhos Pintos deste mundo atacam os trabalhadores e os partidos políticos, recorrendo a uma argumentação fácil de desmontar, se existisse contraditório, que não existe.
Deste modo e atingindo um público mais envelhecido, a demagogia vai fazendo o seu caminho - um caminho fácil porque sem o tão necessário contraditório. Assim, ataca-se os partidos políticos, apostando em dogmas que postulam a inexistência de gente séria nesses partidos, apresentados como sorvedouros de dinheiro, não se vislumbrando no entanto propostas no sentido de combater os excessos, mantendo a democracia ou até consolidando-a. Nem tão-pouco informam acerca de democracias em que os partidos e os políticos são reféns do dinheiro que os promove, ao ponto de enfraquecer ou até mesmo eliminar a democracia onde o povo soberano vê a sua soberania ser transferida para o mundo dos negócios que escolhe os representantes políticos - os seus representantes políticos..
E aqui reside o busílis da questão: como encaixar aquela cacofonia contra os trabalhadores e contra os partidos mantendo incólume o sistema democrático? Em bom rigor, os demagogos de trazer por casa pouco ou nada se importam com o sistema democrático, que, paradoxalmente, aceita no seu seio quem chafurda na demagogia mais barata.
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