Trump diz mais de nós do que gostaríamos de admitir. E, evidentemente, diz ainda mais dos americanos, desde logo porque factores culturais não podem ser dissociados desta e de outras escolhas.
Mas e o que é que diz de alguns de nós, concretamente? Diz que somos profundamente egoístas e que fizemos a escolha que reflecte esse egoísmo: um ser egocêntrico, medíocre (apesar da aura se super-empresário que tanto lhe tem favorecido), ordinário, avesso à cultura e que prometeu, dito de um modo pueril, fazer mal a determinados conjuntos de pessoas, designadamente a imigrantes, mas também a americanos - os que beneficiam do Obamacare, por exemplo.
Vem tudo isto a propósito da "celebração" do primeiro ano da presidência Trump. Primeiro e, esperam muitos, último, sobretudo tendo em consideração a instabilidade que é inerente a esta Administração, com o afastamento dos mais próximos de Trump e com a investigação sobre a influência russa.
Trump pode ter a mais baixa taxa de popularidade, pode ter sido eleito com uma percentagem baixa, mas existiu e existe quem se encontre do seu lado, gente que, por muito que se tente dourar a pílula, votou e continua a apoiá-lo por motivos profundamente egoístas. Trump Presidente diz mais sobre esses americanos do que eles próprios julgariam possível.
Donald Trump vinga em tempos em que a tecnologia, num curioso paradoxo, promete-nos um mundo novo caracterizado por mais comunicação entre seres humanos ao mesmo tempo promove novas formas de individualismo exacerbado que se traduz amiúde na passagem pela vida com os rostos enterrados num qualquer ecrã, incapazes de levantar a cabeça e olhar para o outro. E isto é particularmente verdade numa sociedade que tem na matriz existencial um egoísmo que ninguém tenta sequer disfarçar.
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