Avançar para o conteúdo principal

Os maus resultados do PCP e o futuro da “geringonça”

Os maus resultados do PCP, designadamente da CDU, no contexto autárquico deve-se, muito provavelmente, a um conjunto de razões que podem partir da redução da abstenção com novos votantes a procurarem a mudança em autarquias tradicionalmente comunistas; pelo expectável desaparecimento de votantes pertencentes a gerações mais antigas; culminando provavelmente com movimentos cíclicos em que o PCP sai beneficiado com o voto de protesto, o que não se verificou tendo em conta a inexistência de razões para esse voto.
A reação da cúpula do partido não podia ter sido pior, chamando a atenção, desde logo, para um potencial arrependimento do eleitorado e, num segundo momento, apontando o dedo aos restantes partidos da “geringonça”, acusando-os de culpa pelos maus resultados da CDU.
Ora, o absurdo e a cobardia parece terem tomado conta da Soeiro Pereira Gomes, acontecimento, aliás, que não será inédito entre os comunistas, sobretudo em tempo de vacas magras.
No entanto e apesar desse absurdo, não vejo razões para se afirmar que o futuro da solução política que PCP e Verdes integram está em jogo. Não está, e por muito que essa ligação até às próximas legislativas provoque um amargo de boca em muitos comunistas, e não só, o PCP e os Verdes veem-se obrigados a aguentar. Não há alternativas. Se o PCP abandonasse esta solução política dois cenários seriam os mais prováveis num contexto de eleições antecipadas: maioria absoluta do PS, com o resto da esquerda a apontar o dedo aos comunistas pela sua saída do poder; ou impossibilidade da esquerda atingir a maioria e elaborar acordos, regressando a direita ao poder, com toda a esquerda fora do espectro comunista a apontar o dedo aos comunistas.

Em suma, não há alternativa, deixando o Partido Comunista a desviar as atenções de si próprio, apontando o dedo aos outros, pressionando a CGTP para sair à rua, em mais uma espécie de prova de vida. E assim se esgotam os instrumentos do PCP.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Saídas para os impasses

As últimas semanas têm sido pródigas na divulgação de escândalos envolvendo o primeiro-ministro e as suas obrigações com a Segurança Social e com o Fisco. Percebe-se que os princípios éticos associados ao desempenho de funções políticas são absolutamente ignorados por quem está à frente dos destinos do país - não esquecer que o primeiro-ministro já havia sido deputado antes de se esquecer de pagar as contribuições à Segurança Social. A demissão está fora de questão até porque o afastamento do cargo implica, por parte do próprio, um conjunto de princípios que pessoas como Passos Coelho simplesmente não possuem. A oposição, a poucos meses de eleições, parece preferir que o primeiro-ministro coza em lume brando. E com tanta trapalhada insistimos em não discutir possíveis caminhos e saídas para os impasses com que o país se depara. Governo e oposição (sobretudo o Partido Socialista) agem como se não tivessem de possuir um único pensamento político. Assim, continuamos sem saber o que...

Fim do sigilo bancário

Tudo indica que o sigilo bancário vai ter um fim. O Partido Socialista e o Bloco de Esquerda chegaram a um entendimento sobre a matéria em causa - o Bloco de Esquerda faz a proposta e o PS dá a sua aprovação para o levantamento do sigilo bancário. A iniciativa é louvável e coaduna-se com aquilo que o Bloco de Esquerda tem vindo a propor com o objectivo de se agilizar os mecanismos para um combate eficaz ao crime económico e ao crime de evasão fiscal. Este entendimento entre o Bloco de Esquerda e o Partido Socialista também serve na perfeição os intentos do partido do Governo. Assim, o PS mostra a sua determinação no combate à corrupção e ao crime económico e, por outro lado, aproxima-se novamente do Bloco de Esquerda. Com efeito, a medida, apesar de ser tardia, é amplamente aplaudida e é vista como um passo certo no combate à corrupção, em particular quando a actualidade é fortemente marcada por suspeições e por casos de corrupção. De igual forma, as perspectivas do PS conseguir uma ma...

Outras verdades

 Ontem realizou-se o pior debate da história das presidenciais americanas. Trump, boçal, mentiroso, arrogante e malcriado, versus Biden que, apesar de ter garantido tudo fazer  para não cair na esparrela do seu adversário, acabou mesmo por cair, apelidando-o de mentiroso e palhaço.  Importa reconhecer a incomensurável dificuldade que qualquer ser humano sentiria se tivesse que debater com uma criança sem qualquer educação. Biden não foi excepção. Trump procurou impingir todo o género de mentiras, que aos ouvidos dos seus apoiante soam a outras verdades, verdades superiores à própria verdade. Trump mentiu profusamente, até sobre os seus pretensos apoios. O sheriff de Portland, por exemplo, já veio desmentir que alguma vez tivesse expressado apoio ao ainda Presidente americano. Diz-se por aí que Trump arrastou Biden para a lama. Eu tenho uma leitura diferente: Trump tem vindo a arrastar os EUA para lama. Os EUA, nestes árduos anos, tem vindo a perder influência e reputação ...