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Marcelo, o adorado

Muitos, incluindo à esquerda, viram em Marcelo um aglutinador de vontades, um Presidente empenhado em fazer da união a sua marca, alguém que poderia viabilizar a chamada "geringonça". Enganaram-se. Marcelo está longe de ser o que tem sido propalado, apoiando-se num populismo baratucho disfarçado de afectos aos montes.
Quanto ao episódio em que Marcelo puxa as orelhas ao Governo, incapaz de não cavalgar a desgraça dos incêndios, nem uma palavra quanto ao facto de já ter conhecimento de que a ministra da Administração Interna seria demitida, preferindo passar a ideia de que seria ele, o Presidente, a exigir essa demissão. Nem uma palavra quanto à dissimulação. Obviamente.

Com Marcelo virão novas surpresas desagradáveis. Em primeiro lugar estará ele próprio, o mais amado dos amados, numa espécie de messianismo que nunca, verdadeiramente, ultrapassámos. O primeiro-ministro existe, mas na condição de estar em segundo plano; os portugueses têm de continuar a amá-lo, a si, Marcelo, e nada se poderá colocar no caminho dessa adoração, muito menos desgraças de grandes proporções. Na eventualidade dessas desgraças acontecerem, Marcelo dará o corpo do Governo ao manifesto, salvando-se a si próprio, mostrando que é um homem de afectos, mas também de pulso firme e não receia em nada, absolutamente em nada, ser confundido com um rei absolutista. Afinal de contas ser adorado é tão bom, e o que dizer de ser adorado colectivamente? E o que dizer de ser adorado como um herói, mesmo que isso implique chamar a atenção para o vilão - o Governo? Correntes há na psicanálise e até na filosofia que postulam que o ser herói é, afinal de contas, o grande objectivo da vida do ser humano. 

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